Ela poderia ser sua amiga de colégio ou aquela menina que você conheceu no bar num sábado qualquer, mas é a nova celebridade da internet e foi uma das palestrantes do TedxParquedasNações Women, na tarde desta sexta-feira (29/5), na Embaixada da França. Julia Tolezano, 24 anos, mais conhecida como Jout Jout, tem feito sucesso nas redes com vídeos no seu canal do YouTube, que tratam desde os temas mais banais, como pés, até tabus, como relacionamentos abusivos. Hoje, já são mais de 143 mil inscritos.
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Em frente a uma plateia de 100 pessoas, com o holofote na cara, Jout Jout não tem a mesma desenvoltura de seus vídeos e tropeça nas palavras - quando não se esquece delas e grita pela ajuda de Caio, o namorado, também na plateia (sim, o misterioso namorado e cameraman existe). Em momento algum, mesmo quando oscila entre o improviso e o nervosismo, ela deixa de arrancar risadas.
Entre uma e outra selfie com fãs apaixonadas - às quais ela beija e abraça uma por uma -, ela conversou com o Correio.
Apesar de ter sido convidada para palestrar em um evento feminista, Julia nunca foi militante ;da causa;. Há apenas alguns meses ela se descobriu feminista: ;Olha o que eu falo, olha o que o feminismo prega: encaixa perfeitamente;, justifica.
Julia criou o canal de vídeo há um ano, quando enfrentava o que ela chama de ;crise da geração Y;: a récem formada em jornalismo queria o emprego perfeito, mas não sabia o que queria. No entanto, os vídeos começaram a viralizar há três meses, com o ;Não tira o batom vermelho; (656 mil de visualizações), que fala de relacionamentos abusivos. Julia conta que, em 24 horas, teve 40 mil visualizações e, de repente, não eram apenas amigos e familiares que viam seus vídeos. Um dia foi abraçada no metrô por uma menina em prantos: ela queria agradecer, porque, graças ao vídeo, a moça teve coragem para pedir divórcio de um relacionamento abusivo.
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Jout Jout ficou famosa de uma forma que nem mesmo ela parece entender. Mudou a vida de pessoas, como a da menina do metrô, apenas falando sobre as temas do dia a dia. ;O segredo é falar com naturalidade. Pego um tema que as pessoas acham que só acontece com elas e jogo em um ventilador de purpurina;, explica, fazendo a plateia cair na gargalhada, de novo.
De onde vem a alcunha ;Jout Jout;?
Eu trabalhava com uma menina que também se chamava Júlia, aí todos a chamavam de Julia G. e eu de Julia T. Caio, de brincadeira, começou a me chamar de ;Jout Jout;. E então, ele começou a me escrever coisas e inventou a grafia assim, com ;out;. Aí pensei em criar o canal.
Como você escolhe os temas?
Eu acordo e falo ;bom, hoje quero falar sobre isso;. Decido na hora, quando estou ligando a câmera. É completamente aleatório, por isso tem até vídeo sobre meu pé.
A que você atribui o sucesso?
Eu acho que é porque eu falo das coisas muito naturalmente. Não falo de ódio, acho que a gente está numa fase de ;vamos nos abraçar e ser amigos, mesmo que a gente pense diferente, vamos parar de ficar achando tudo ruim;. Acredito que incentivo esse abraço, não esse ódio, essa raiva.
Você aborda temas espinhosos também;
Porque é importante. Mas geralmente quando eu falo desses temas não é porque acordo pensando ;ah, hoje vou empoderar as pessoas;. Eu preciso falar sobre aquilo para mim, sobre inseguranças, preciso resolver alguma coisa que está na minha cabeça. Aí acaba que as pessoas se identificam com aquilo, porque todo mundo é parecido, nós sofremos das mesmas coisas. Isso é supernormal. E as pessoas ficam aliviadas pensando ;ah, eu sou normal, graças a Deus;.
Você mudou desde que começou a fazer os vídeos?
A gente muda o tempo todo. Tem gente que já virou e me pediu ;Jout, pelo amor de Deus, nunca mude;. Como é que eu vou prometer isso? Eu vou mudar com certeza, até porque eu adoro mudar. Mas a essência fica. Eu posso ser a mesma de cabelo azul, mas eu jamais pintaria o cabelo de azul, porque não sou corajosa para mudanças drásticas no cabelo; E isso não tem nada a ver com a entrevista, desculpe!
Você se considera feminista?
Antigamente, eu falava que não. Fizeram essa pergunta em uma entrevista recente, e eu respondi que não era nada, que não levantava bandeiras. Aí escreveram que eu não era feminista e o povo caiu em cima. Recebi muitas mensagens, muitas pessoas falando que eu era feminista e não sabia. Aí comecei a ler, a estudar. Vi muitos vídeos sobre o assunto. Então, pensei: ;Olha o que eu falo, olha o que o feminismo prega: encaixa perfeitamente;. Aí aconteceu a transformação.