Um desses casos é Cheila Luz, de 42 anos, que trabalha na biblioteca pública de Taguatinga desde 1996, quando teve de parar de lecionar após ficar dois anos sem voz. ;Dei aula desde os 16 anos e chegou a um ponto em que fiquei completamente afônica. Até hoje tenho uma voz extremamente rouca;, conta. Cheila só se recuperou após uma cirurgia para retirar um cisto nas cordas vocais. Antes, ela dava aula para crianças entre 9 e 11 anos. ;Era uma rotina extremamente exaustiva. O tempo todo em sala de aula e sem nenhum tipo de orientação (sobre como usar a voz);, afirma. Ela conta que outros colegas também mudaram de função devido a problemas vocais. ;Se a gente aprendesse a usar o instrumento de trabalho, poderia evitar essa situação;, diz.
É o que propõe o Projeto deLei 1.128, de 2003. De acordo com o texto, serão feitos exames preventivos com otorrinolaringologistas e fonoaudiólogos, treinamentos teóricos e práticos, e um programa de reabilitação. A proposta também prevê que conhecimentos de saúde vocal estejam no currículo dos docentes. Se aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, o texto segue para sanção presidencial, caso não haja pedido para ser apreciado pelo plenário da Casa. Proposta similar está sendo discutida na Comissão de Educação da Câmara e ainda terá de passar por outros dois colegiados e pelo Senado. O Projeto de Lei 2.776, de 2011 inclui também a rede particular no programa. Nenhum dos projetos detalha como será a atuação dos profissionais da saúde nem trata de previsão de gastos.
Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), os distúrbios de voz estão diretamente relacionados à precariedade do trabalho. ;É humanamente impossível lecionar em salas superlotadas, barulhentas e sufocantes por jornadas de trabalho extenuantes que podem chegar até a 60 horas semanais sem nenhum comprometimento à saúde;, afirma Francisca Seixas, secretária de Saúde da CNTE. Ela defende que a luta por melhores condições é essencial tanto para os profissionais de educação quanto para elevar a qualidade do ensino.
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