Quando os primeiros disparos começaram a ser ouvidos na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Eduardo Rocha, que tinha 11 anos, pensou que fossem "bombinhas". Foi então que os professores chegaram correndo ao terceiro andar e pediram que os alunos se trancassem nas salas. No primeiro andar, sua irmã, Mariana Rocha, e outros 11 adolescentes foram assassinados por Wellington Menezes de Oliveira, em 7 de abril de 2011. Além das vítimas que se feriram ou morreram com os disparos, o crime atingiu também a vida escolar de familiares e amigos, que sofreram para conseguir retomar os estudos.
O trauma da tragédia fez com que o jovem Eduardo, hoje com 15 anos, ficasse dois anos fora da escola. "Não queria voltar. Não dava. Muita gente falando e até os outros amigos meus falam até hoje sobre isso. Me incomoda", desabafa ele, abraçado com a mãe, Noeli da Silva Rocha, que conta que os dois são apontados na rua: "Aquele ali é o irmão da Mariana. Aquela ali é a mãe da Mariana. Isso nunca vai ser esquecido, não adianta".
Quando voltou a estudar, em 2013, ele foi para outra escola do mesmo bairro, e hoje sonha em cursar engenharia civil. Se não tivesse parado de estudar, ele já estaria a um ano do vestibular. Em vez disso, agora ainda precisa começar o ensino médio.
Alessandra Oliveira, hoje com 18 anos, não chegou a pensar que o barulho dos tiros era outra coisa, porque o assassino entrou em sua sala e matou três de suas colegas. Entre elas, Laryssa Martins, sua melhor amiga. Outros cinco colegas de turma foram feridos pelos disparos. "Fiquei em depressão, e isso me prejudica até hoje. Estudo à noite e tenho muito medo de ir para a escola", conta ela, que tentou mudar de bairro e de escola, mas acabou sendo reprovada no primeiro ano do ensino médio. "Eu estudava com a Laryssa desde pequena, desde a terceira série. Eu não tinha força para estudar. Tinha medo que acontecesse a mesma coisa".
Leia mais notícias em Brasil
Hoje, no segundo ano do ensino médio, ela afirma não ter vontade de continuar a estudar. "Voltei a estudar porque meu pai me obriga e porque sem estudo não sou nada. Mas minha vontade é de não ir para a escola".
Uma das vítimas na sala de Alessandra foi Géssica Guedes, irmã de Michelle Guedes, que hoje tem 22 anos. A jovem estudou até o nono ano na Tasso da Silveira e tinha concluído o ensino fundamental em 2010, meses antes da tragédia. "Fiquei dois anos sem querer estudar. Ia fazer medicina. Fui para direito", diz ela, que continuou a estudar por causa da pressão dos pais, e hoje está na faculdade. A troca de carreira, na visão dela, foi influenciada pela tragédia: "Hoje, eu procuro lutar por justiça, que não houve no nosso caso. Faço estágio e estou muito realizada na minha profissão".
A aluna Tainá Bispo, de 19 anos, assim como Alessandra e Michelle, também perdeu a vontade de ir para a escola depois do ataque. Sua irmã, Milena Bispo, foi uma das vítimas, mas Tainá insistiu em voltar porque sua outra irmã também estudava na Tasso da Silveira e pediu que ela não a deixasse sozinha. "Só que a gente não conseguiu continuar por causa das fortes lembranças que a gente tinha. Eu tinha 15 anos e estava no ultimo ano", contou ela emocionada.
Depois de um ano estudando em casa, ela foi para outro colégio e concluiu o ensino médio. Seu sonho é fazer uma faculdade de medicina: " Comecei a trabalhar agora e a vida está caminhando. Estou tentando empurrar com a barriga".
Alan Mendes Ferreira, hoje com 17 anos, teve uma atuação decisiva no dia da tragédia: mesmo ferido, conseguiu chamar o policial militar Marcio Alves, que matou Wellington Menezes de Oliveira antes que ele fosse para os outros andares, onde poderia fazer mais vítimas. O adolescente continuou a estudar na Tasso da Silveira por mais dois anos, chegou ao ensino médio e agora está no terceiro ano. "Acho que voltar para lá me ajudou a superar as coisas", diz ele, que conta que muitos colegas ficaram revoltados e passaram a culpar a escola pela tragédia. "Sempre tinha essa polêmica".
Apesar de estar perto de terminar o ensino médio, Alan não sabe o que vai fazer em seguida. Sua vontade era entrar para a Aeronáutica, mas isso não será possível porque o tiro que o feriu deixou fragmentos de bala alojados em seu ombro esquerdo e perto do coração. "Não posso fazer nada muito pesado. Os médicos não liberaram ainda. Estou pensando o que vou fazer da vida ainda. Ano que vem vou ficar pensando um pouquinho".