Jornal Correio Braziliense

Brasil

Opinião: maioridade penal, jovens, ódio e irracionalidade

Contra números, não há argumentos. Mas a regra não serve para os nossos congressistas. Os números que eles enxergam são apenas os seguidos por cifrões e os das urnas. Mas, caro leitor, gostaria que conhecesse alguns deles, que dizem respeito a jovens e crimes, assunto amplamente debatido esta semana em função da proposta de redução da maioridade penal. O Brasil tem 21 milhões de adolescentes, segundo o IBGE. Desses, 2.730 participaram de algum crime contra a vida (homicídio/latrocínio) nos últimos cinco anos: 0,013%, de acordo com a Unicef. Do universo de 0,013%, 90% (2.457) não concluíram o ensino fundamental, ainda segundo o Unicef. O Brasil é o segundo país em número de homicídios de adolescentes, atrás apenas da Nigéria. Os assassinatos representam 36,5% das causas de morte por fatores externos de adolescentes no país, enquanto para a população total corresponde a 4,8%. Mais de 33 mil brasileiros de 12 a 18 anos foram assassinados entre 2006 e 2012. Se continuar no ritmo atual, até 2019, outros 42 mil serão mortos no Brasil. Ainda falando do nosso país, sete jovens de 15 a 29 anos são mortos a cada duas horas, 82 por dia, 30 mil por ano. E adivinha qual é a cor da pele de 77% deles? Bingo! Negros. Aliás, enquanto o assassinato de jovens brancos diminui, o de jovens negros aumenta, como mostra o Mapa da Violência de 2014. Mas nenhum número desses sensibiliza grande parte do Congresso Nacional e da sociedade. Não há comoção pela matança de crianças e adolescentes no Brasil, que supera a de países em conflito declarado, como a Síria. Muito menos existe embate no Poder Legislativo ou nas redes sociais sobre a qualidade do ensino nas nossas escolas e a desigualdade social. Mas como cobrar racionalidade de parlamentares que usam o nome de Deus para pregar o ódio, o preconceito? Ou como cobrar racionalidade e diálogo daqueles que só apelam a discursos autoritários, raivosos, ameaçando, intimidando, financiados por fabricantes de armas? E é essa gente que hoje tem mais voz em um Congresso presidido por senhores indiciados pela Polícia Federal, eleitos por uma massa que, incoerentemente, cobra justiça, transparência e punição exemplar a ladrões de dinheiro público.