O primeiro clube de consumidores de alimentos orgânicos ganha espaço no Rio de Janeiro, a partir de uma ideia simples de dois publicitários, que reúne um grupo de pessoas para receber produtos orgânicos sob demanda, direto dos produtores. Os participantes pagam uma mensalidade e em troca são ofertadas cestas semanais para cada integrante. Ao trazer a iniciativa para a capital fluminense, Victor Piranda, 28 anos, e Eduardo Boorhem, 27 anos, tinham como objetivo conectar consumidores e produtores, e democratizar o acesso aos alimentos orgânicos no estado.
Piranda explica que a empreitada iniciada com o amigo de infância e de faculdade surgiu do desejo comum de trabalhar para a transformação social e sustentabilidade do planeta. ;Sabemos que existe grande demanda por alimentos orgânicos, mas há dificuldade de encontrá-los, nem sempre estão em bom estado e geralmente são caros;, explica ele. ;O Clube Orgânico é um projeto de economia colaborativa, queremos garantir remuneração justa ao produtor, para que ele possa trabalhar com segurança e oferecer produtos de qualidade por preços justos;, informa, e ressalta que os associados assumem o compromisso de permanecer no clube por pelo menos um ano, de modoa garantir a sustentabilidade da produção.
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;A ideia não é só entregar comida na casa das pessoas, mas possibilitar uma experiência nova de vida, ajudar a aumentar a consciência por alimentos mais saudáveis e por uma sociedade mais justa;, disse ele. E o primeiro passo para tentar tirar a ideia do papel foi inscrever o projeto, que chamaram de Clube Orgânico, no Programa Shell Iniciativa Jovem. Dos 1.700 inscritos, o Clube Orgânico ficou em segundo lugar, entre os 80 classificados para a fase de desenvolvimento.
A dupla descobriu mais tarde que clubes de consumidores que apoiam a agricultura local existem há décadas em vários países. Começaram no Japão, como forma de superar a escassez de alimentos e dificuldades depois da Segunda Guerra Mundial. Eles descobriram que São Paulo também tinha clubes com esse perfil, e decidiram conhecer melhor uma das iniciativas em Botucatu, interior do estado. ;Eles estavam dando um curso, então fui para lá e peguei várias ideias legais para adaptá-las à realidade do Rio de Janeiro, que tem uma outra dinâmica;, segundo Piranda.
[SAIBAMAIS]
Inicialmente, as cestas eram personalizadas, mas os idealizadores perceberam que devido à sazonalidade e ao trabalho de seleção, os produtos acabavam encarecendo. ;Não customizamos mais, oferecemos uma cesta padrão, mas as pessoas podem influenciar naquilo que é produzido. Os associados vão ganhar uma lista, e podem dizer o que querem receber sempre, de vez em quando ou quase nunca, mas será uma decisão coletiva;. São 15 itens variados entre raízes, temperos e frutas. Ele conta que o projeto-piloto começou em setembro passado, e foi tão exitoso que decidiram ampliá-lo.
;O interesse foi enorme. Em um mês de divulgação mais de 2 mil pessoas se cadastraram no site para participar. Mas tivemos que segmentar por bairros, não pelo número de pessoas, por uma questão de distribuição;, comenta ele. Os problemas de trânsito e distâncias, na capital fluminense, foram decisivos para a escolha de apenas alguns bairros nessa primeira fase. O lançamento oficial será em 6 abril e ainda restam cerca de 50 vagas das 120 ofertadas para os bairros da Tijuca, Grajaú, Vila Isabel, na zona norte, Barra, zona oeste, Botafogo e Humaitá, zona sul. As inscrições são feitas pelo site https://portal.pagzoop.com/clubeorganico/shop.
Além da entrega porta a porta, existem centros de distribuição para quem não mora nos bairros selecionados, mas tem como buscar os produtos semanalmente em um dos locais de distribuição. ;A ideia é que, no futuro, a maioria das pessoas busque nos centros de distribuição e a entrega em casa tenha um adicional, porque, conceitualmente para nós, a ideia é construir comunidades, para que as pessoas tenham esse contato;. Nessa fase inicial, os produtos vêm de um grupo de produtores em Itaipava, região serrana do Rio, que estão produzindo 40 tipos de alimentos.
A matrícula custa R$ 100 e a mensalidade R$250, mas Victor acredita que o valor diminua à medida que o clube cresça. A expectativa é que até o fim do ano cerca de 800 pessoas estejam na rede e creça também a participação de produtores.
O projeto promove, ainda, um centro de pesquisas de práticas sustentáveis, com parceiros em um sítio na Serra dos Órgãos, com oficinas e workshops. Os jovens empreendedores esperam que a iniciativa renda frutos e estimule outros clubes pelo estado. ;No orgânico não temos concorrentes, apenas pessoas que se unem por uma causa;, salientou.