Jornal Correio Braziliense

Brasil

Sagrado e profano se misturam no desfile dos blocos em Ouro Preto

Encontro inusitado do Bloco do Chifrudo com o Jesus é Bom a Beça alegra foliões em Minas


Se alguma divindade ou santo abençoa os foliões do carnaval, essa entidade favoreceu ontem aos 75 mil esperados para se divertir em Ouro Preto, fazendo da cidade um oásis de bom tempo em meio a nuvens carregadas que despejaram chuva nas cidades ao redor, como Mariana e Itabirito. Melhor para turistas e passistas que se fantasiaram e brincaram entre os cinco palcos espalhados pelas ladeiras da cidade.

São tantos blocos, oficiais e formados por grupos de amigos e vizinhança, que nem as curvas apertadas e as vias estreitas podiam esconder sua passagem. O fluxo é tão intenso que as baterias e abre-alas de grupos diferentes chegam a se trombar. Às 16h, o veterano Bloco do Mato, formado em 1981, se mesclou com outra fileira de foliões, do Bloco do Chifrudo. Juntos, desceram da Praça Tiradentes pela Rua das Flores. A mistura de temáticas de homens com chifres e de gente sacudindo ramos ao som do batuque ganhou adeptos rapidamente pelas ruas de calçamento. ;É parte dessa diversão. A criatividade dos blocos, que têm estilo e fantasias próprias e a possibilidade de qualquer um poder entrar e seguir junto;, disse a agente de turismo paulistana Yara Migushi, de 56 anos.

No fim da Rua das Flores, o boneco abre-alas boi-bumbá dos chifrudos ia ensaiando avanços e corneadas no público que entrou na brincadeira. A meninada jogava espumas e confetes e depois corria para se esconder do touro branco e seus chifres de isopor.

Fé e folia
Adiante, novo congestionamento de blocos na Rua da Direita. De longe dava para ver as mãos dos foliões balançando para o alto numa coreografia ritmada pelo batuque. E qual não foi a surpresa dos integrantes do Chifrudo quando descobriram que o bloco na sua frente era evangélico, o Jesus é Bom a Beça. A porta-bandeiras e os passistas fantasiados com capacetes com chifres provocaram muita risada e piadas entre os turistas. ;É o embate de Jesus com o chifrudo. É o fim dos tempos;, brincou o estudante Alberto Dias, de 23 anos, morador de uma das repúblicas da cidade.


Mas não houve briga de proporções bíblicas. A alegria do carnaval falou mais alto e os evangélicos abriram caminho para a passagem dos colegas de folia. Não, é claro, sem formar uma espécie de cerca de mãos abertas para o alto abençoando os cornos e cornas. ;Deus abençoa. Jesus te ilumina;, diziam. Pela primeira vez nesse bloco, o motorista belo-horizontino Raimundo Magnum, de 37, diz que a bênção não foi para provocar. ;É para todos sermos felizes e bem-aventurados neste carnaval. Trouxe minha mulher e filhos para nos divertir e louvar também;, disse.