Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), José Francisco Soares discorda sobre a estagnação. ;Quase todos os índices da educação brasileira estão crescendo. Não é o ideal, mas estamos avançando. É preciso reconhecer que o país não está parado, mas, como ele começou a se preocupar tarde com a educação, temos um caminho longo pela frente;, defende. Soares relembrou ainda que o governo se pauta pelo Plano Nacional de Educação (PNE), lei aprovada em junho de 2014, com 20 metas a serem alcançadas gradualmente até 2024.
Distorção
O estudante Juan Dias se sente prejudicado pelos anos que perdeu. ;Se eu tivesse terminado no tempo adequado, já estaria na metade da faculdade, bem mais à frente;, considera. Outro aspecto observado na pesquisa, a taxa de distorção de idade por série, aponta diferença maior entre a idade adequada e a idade real dos alunos nos anos finais do ciclo básico. Alejandra, do TPE, avalia que isso ocorre pelo desestímulo do estudante que reprova e tende a repetir outras vezes, como no caso de Juan. ;Uma criança que reprova, passa a frequentar um ano escolar errado e isso pode levar, a longo prazo, a outras reprovações e abandono. Isso aumenta de forma expressiva o número de alunos que saem da escola antes de concluir os estudos;, relaciona.
As consequências da reprovação são só um sintoma dos problemas encontrados na educação brasileira. ;Eu não gostava da escola, era muito bagunçada, entrava quem queria, saía quem queria e os professores não davam uma boa aula;, reclama Juan sobre as outras três escolas públicas em que estudou antes de ingressar no Centro Educacional 1 do Cruzeiro.
O aluno conta que sentia dificuldades com o conteúdo, mas que as escolas não ofereciam reforço escolar. Para Alejandra, essa mãozinha é muito importante. ;A reprovação não pode ser uma política pública, e a aprovação do aluno sem domínio das disciplinas vai levá-lo a não conseguir acompanhar as etapas seguintes, resultando no fracasso e no abandono escolar. A medida a ser tomada é o reforço no contraturno no decorrer do ano, de forma que a pessoa vá para o ano seguinte adequadamente.;
Desigualdade social
Outro aspecto revelado pela pesquisa é a desigualdade observada com relação aos aspectos socioeconômicos, raciais e regionais. Há uma diferença de aproximadamente 20 pontos percentuais entre jovens brancos e negros que concluíram os ciclos básicos da educação na idade adequada. Quanto à renda familiar, entre os 25% mais ricos, 83,3% dos alunos concluem o ensino médio até os 19 anos, enquanto entre os 25% mais pobres o índice cai para 32,4%. A situação é semelhante na educação fundamental. As regiões Norte e Nordeste apresentam taxa de conclusão inferior à média nacional, enquanto os melhores resultados estão no Sudeste.
Alejandra acredita que essas disparidades deveriam nortear as políticas públicas de educação. ;Deve-se destinar mais recursos financeiros e técnicos àquelas regiões e grupos sociais que apresentam indicadores mais baixos;, afirma. José Francisco Soares, do Inep, defende que o governo federal busca essas soluções por meio de cooperação com os estados. Ele aponta que os investimentos em educação estão aumentando sistematicamente. ;Hoje, são 6,4% do PIB (Produto Interno Bruto) destinados à educação, e o governo aprovou a alocação dos recursos do pré-sal para a mesma finalidade;, argumenta.
Alejandra conclui que os índices analisados sinalizam deficiências que devem ser corrigidas ao longo de todo o ensino. ;Não tem como corrigir a idade de conclusão no ensino médio se não se resolvem todos os problemas que a educação pública enfrenta desde a educação infantil. A gente precisa cuidar da qualidade do ensino desde os anos iniciais.;