Brasil

Médicos defendem que hidrogel seja banido e analisado pelo CFM

Com a morte de uma mulher em Goiânia e diante da internação de Andressa Urach, entidades querem que o produto seja retirado do mercado até que análises comprovem a segurança dele. Mulheres têm utilizado a substância para aumentar partes do corpo

postado em 03/12/2014 06:07
Andressa Urach mostra perna roxa após cirurgia para retirada de hidrogel em julho O caso da modelo Andressa Urach, internada em estado grave por complicações relacionadas à aplicação de hidrogel para aumentar as coxas, colocou mais uma vez a substância ; e a forma como ela é usada ; em xeque. O mesmo produto foi utilizado por Maria José, que morreu em Goiânia, em outubro. O hidrogel, com o nome comercial de Aqualift, já teve registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Hoje a venda está proibida porque a autorização para a comercialização expirou em março. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) defende que o produto seja banido até que as análises comprovem a segurança dele. Médicos fazem coro com a entidade, enfatizando que o hidrogel tem sido aplicado para um fim inadequado.

Além da suspensão da venda, a SBCP quer que o Conselho Federal de Medicina (CFM) faça uma análise sobre o produto e que, até lá, a Anvisa mantenha suspensa a comercialização. O conselho não comentou o pedido, apenas ressaltou que a substância só deve ser manipulada por médicos. A empresa que distribui o Aqualift (de poliamida) já pediu a renovação do registro na Anvisa, ainda pendente por questões burocráticas.

Segundo as instruções de uso do produto informadas pela Anvisa, o Aqualift é indicado para preenchimento de volume de partes do corpo, como pernas, bumbum e rosto, por exemplo. Só que a aplicação não pode superar 50ml por região. Segundo o portal de notícias Ego, Andressa Urach relatou ter aplicado, em 2009, 500ml da substância em cada coxa para aumentá-las ; 10 vezes mais que o limite. Internada desde sábado com o quadro de sepse, a apresentadora passou por cirurgia ontem para tratar de uma infecção nas pernas. Até o fechamento desta edição, o estado de saúde dela era grave, porém estável.

Andressa começou a se queixar de dores nas pernas e procurou um cirurgião plástico, que constatou uma inflamação por causa do hidrogel, aplicado cinco anos antes. Nas redes sociais, ela disse que fez pelo menos duas intervenções para retirar o produto das coxas. Até que, no sábado passado, sentindo-se muito mal, foi levada ao pronto-socorro do Hospital Conceição, em Porto Alegre, onde está na UTI. ;Permanece sedada e respirando com auxílio de aparelhos;, diz a última nota da unidade de saúde. Ontem, a mãe da modelo pediu que os fãs orem por ela.

Secretário-geral da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Luciano Chaves afirma que a substância não é recomendada para o aumento de glúteos e coxas, apenas para pequenas depressões. Para essas áreas, deve ser feito o implante de silicone ou um enxerto de gordura do próprio corpo. ;É um produto químico sintético que gera processos inflamatórios. Outro problema é que a substância, às vezes, migra de posição e, se entrar numa região vascularizada, pode gerar uma trombose ou embolia;, diz. ;A nossa posição é que não se renove o registro até que mais pesquisas sejam feitas. Esses casos acenderam um alerta.;

;Maluquice;
Para a cirurgiã plástica Alessandra Haddad, chefe do Setor de Cosmiatria e Laser da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os casos recentes de complicações por uso de hidrogel são uma combinação da ;maluquice de pacientes; e da ;falta de ética de quem aplica;. ;A busca pela beleza imediata tem levado as pessoas a usarem grandes quantidades, o que não é indicado, e os profissionais sabem disso;, afirma. ;Além disso, o procedimento tem que ser feito por um médico. É quase uma cirurgia. Se você está em um ambiente inadequado, pode levar uma bactéria para o corpo do paciente.;

Segundo a presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Denise Steiner, os profissionais da área não costumam usar o hidrogel de poliamida, apesar de ele ser um tipo de preenchedor, devido à ocorrência de problemas, como a formação de bactérias ao redor do produto. ;Às vezes, anos depois, por causa de um trauma, um remédio mais forte tomado, aquelas bactérias começam a crescer ativamente gerando um processo de infecção, não curado com antibióticos comuns.;

Provavelmente, as pessoas recorrem ao hidrogel, na avaliação de Alessandra, pela facilidade de aplicação ; basta uma seringa e anestesia local. ;O paciente não quer ter de se submeter a uma internação, a um pós-operatório. Chego a pensar que, às vezes, o profissional diz que usou hidrogel, mas usou uma substância semelhante manipulada em farmácia ou, pior, silicone líquido;, afirmou a médica, acrescentando que abomina a substância pelo alto índice de rejeição.

Tira-dúvidas
O que é hidrogel?

; De forma genérica, é qualquer substância apresentada em forma de gel aquoso. Sob essa denominação, há mais de 100 produtos registrados na Anvisa, alguns dos quais são tipos de curativos. Mas o hidrogel presente nos casos recentes de aumento de bumbum ou de pernas, é uma substância feita de poliamida e água. A marca mais referida pelos médicos é o Aqualift ; mesmo usado por Maria José Medrado, que morreu, depois da aplicação, em Goiânia.

Para que serve?
; O hidrogel é indicado para preencher superfícies, como rugas, cicatrizes, celulites profundas ou deformações no corpo. No entanto, o uso deve respeitar o limite de 50mg por região. O procedimento de aplicação só deve ser feito por médicos e em local adequado.

Em quais casos o hidrogel é contraindicado?
; Até pelo limite permitido por aplicação, o hidrogel não deve ser usado para aumentar o volume de partes extensas do corpo, como bumbum ou pernas. Nesses casos, o mais indicado é o enxerto de gordura da própria pessoa ou a colocação de próteses de silicone.

Quais os riscos da utilização?
; Além do perigo de infecção, caso os instrumentos usados e o local sejam inadequados, há riscos de compressão de veias, se a quantidade for maior que o limite estipulado. Também pode ocorrer perfuração de vasos durante a aplicação. Sem falar em rejeição do corpo, uma vez que a substância é menos amigável que outras utilizadas no ramo da estética, como o ácido hialurônico, por exemplo.


A matéria completa está disponível , para assinantes. Para assinar, clique .

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação