Jornal Correio Braziliense

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Estudo alerta para ameaças a unidades de conservação e terras indígenas

Cientistas mapearam projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional


Uma série de projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional colocam em risco áreas de proteção ao meio ambiente e terras indígenas. Se aprovados, podem trazer impactos irreversíveis para ecossistemas brasileiros de importância reconhecida mundialmente. É o que afirma um estudo que será publicado nesta sexta-feira (6/11) na revista científica Science. A pesquisa foi feita pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), de Belém (PA), em parceria com pesquisadores britânicos.

A pesquisa mostra que pelo menos 20% de todas as áreas estritamente protegidas e reservas indígenas do Brasil coincidem com as áreas que foram oficialmente registradas como de interesse para a mineração. Uma das propostas em tramitação, por exemplo, prevê a exploração de minérios em até 10% da área de unidades de proteção integral. A maior parte das áreas afetadas está na Amazônia.

Ao todo, um conjunto de 34.117 km2 de áreas de proteção integral - equivalentes ao tamanho da Suíça - estão hoje registradas para a mineração. Estão ameaçados Parques Nacionais e Reservas Biológicas. No caso das terras indígenas, 28% ou 281.443 km2 tem sobreposição com áreas de interesse de mineração - uma área maior do que o Reino Unido ou o estado de São Paulo.


Apesar do aumento recente do desmatamento (28%, entre 2012 e 2013), o Brasil conseguiu reduzir em 80% o corte raso na Amazônia nos últimos 10 anos, e tem a maior rede de áreas protegidas do mundo. Para os pesquisadores, a aprovação dos projetos pelos parlamentares pode sinalizar ao mundo um retrocesso ambiental e enfraquecer o protagonismo brasileiro na área.

Além disso, muitos dos sistemas hídricos associados com áreas protegidas serão influenciados pela construção de grandes usinas hidrelétricas. A sobreposição entre áreas protegidas e interesse mineral ou hidrelétrico ocorre principalmente na Amazônia. "Nossa preocupação é que, mesmo que as ações de mitigação propostas forem postas em prática estas são muito simplistas porque não consideram os efeitos indiretos de mega-projetos. Esses projetos normalmente mobilizam milhares de trabalhadores e levam a um rápido crescimento da população local. Isto, combinado com novas estradas e vias de acesso é uma receita para o surgimento de novas fronteiras de desmatamento", explica Luiz Aragão, co-autor do estudo.

"O propósito desta análise não é dizer que o Brasil não deve se desenvolver e beneficiar de seus recursos naturais abundantes, mas que não devemos ameaçar nossa reputação duramente conquistada de sucesso e liderança em favor de projetos de desenvolvimento mal planejados que deixam um longo legado de danos ambientais. É possível gerenciar o nosso desenvolvimento de forma mais sustentável", argumenta Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa e autora do estudo.

"Durante 15 anos o Brasil aprendeu a duras penas o que tinha que fazer para proteger as florestas, o que incluiu criar áreas protegidas e acelerar e endurecer a aplicação das penas previstas na lei de crimes ambientais. Nos últimos três anos, o Executivo e o Congresso estão enfraquecendo as leis e medidas que estavam funcionando. Como resultado, o desmatamento já aumentou 29% entre 2012 e 2013 e há tendência de aumento em 2014", ressalta Paulo Barreto, pesquisador do Imazon e coautores do estudo.