Com a baixa constante do nível dos reservatórios dos sistemas de abastecimento de água, moradores da região metropolitana de São Paulo e de municípios vizinhos estão recorrendo à compra de água mineral nos supermercados e e aos serviços de caminhões-pipa para enfrentar períodos com torneira seca e se precaver em caso de falhas no fornecimento.
Nas empresas que exploram esses serviços, os telefones não param de tocar. ;A cada dez ligações que recebemos, nove são de residências;, informa Nayara Arnoud, proprietária da Fonte Dracena Transporte de Água Potável, uma das empresas ouvidas pela Agência Brasil.
A Dracena atende a bairros da zona oeste da capital e a municípios vizinhos, como Osasco. Segundo Nayara, a demanda ultrapassou a fronteira tradicional de cobertura com pedidos vindos das zonas leste, sul e norte da cidade. As chamadas que antes partiam de restaurantes; empresas de ramos variados e de residências em que o interesse era apenas encher piscinas, agora são de pessoas que querem aumentar os estoques para necessidades do dia a dia.
De acordo com a empresária, em alguns casos, contou, como os caminhões-pipa transportam um volume de, no mínimo, 5 mil litros, tem gente comprando a água, que é colocada em piscinas e depois transferida para tanques e outros reservatórios domiciliares. ;A procura é tão grande que só estamos conseguindo atender a dois de cada dez pedidos. Por isso, estamos dando preferência aos clientes habituais;, acrescentou Nayara, sem, no entanto, declarar a dimensão dos negócios.
Na mesma região, a H2Ondina Distribuidora de água Potável vive situação semelhante. ;Desde o começo do mês, estamos com demanda em alta, tanto de empresas quanto de pessoas físicas;, diz a responsável pelas vendas, Neiva Rodrigues. Moradores e comerciantes dos bairros da Lapa, Vila Leopoldina e Pinheiros e de municípios vizinhos, como Osasco e Carapicuíba, são os principais clientes. A maioria dos pedidos é para encher piscinas e tanques de residências e restaurantes. O carregamento de 12 mil litros sai por R$ 400.
Na empresa Z Morumbi Transporte de Água potável, na zona sul, o consumidor paga R$ 400 por 10 mil litros. Segundo a companhia, a procura aumentou em torno de 10%. De acordo com porta-voz da empresa, na região, a falta de água ocorre apenas em alguns períodos e muitos esperam para usá-la na hora em que chega.
Em Atibaia, ao norte de São Paulo, um dos dez municípios que dependem do Sistema Cantareira, foi aberta há dois meses a Tec Sonda Poços Artesianos, que teve crescimento expressivo nesse curto período. Embora não saiba dimensionar o crescimento, o supervisor da empresa, Carlos Moura, afirma que é grande. A Tec Sonda Poços Artesianos limita o fornecimento de água a locais situados a até 150 quilômetros da sede. Os preços variam de R$ 250, o caminhão-pipa com 10 mil litros para entrega na própria cidade, a R$ 700, para encomendas fora do município, com o valor dependendo da distância.
A construção de poços artesianos também cresceu no primeiro semestre deste ano. Segundo o Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), as emissões de licenças cresceram de 456, no passado, para 515 de janeiro até agora. De acordo com o Daee, o crescimento vem sendo gradativo nos últimos cinco anos. O total de poços cadastrados até setembro em todo o estado somavam 27.312, sendo 2.082 apenas na capital. Em 2011, eram 20.362; em 2012, 22.623; e, em 2013, 25.556.
O aquecimento que se verifica em relação aos caminhões-pipa também ocorre na venda de água mineral em supermercados e nas empresas que fornecem os galões de plástico, informou o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo (Sincovaga), Álvaro Furtado.
Furtado informou que, desde maio, quando começou a ser usado o chamado volume morto, ou reserva técnica, do Sistema Ccantareira, a demanda cresceu e vem se intensificando, nos últimos dias, com as notícias sobre o uso da segunda cota da reserva técnica. Segundo ele, ainda não existe um levantamento preciso sobre esse avanço. Assim que teve início o uso da reserva, fornecedores têm dito que já receberam 10% a mais de pedidos. ;Com o calor excessivo e a ameça de falta d;água, a tendência é aumentar a bastante procura;, concluiu Furtado.
[SAIBAMAIS]Procurada pela Agência Brasil, a Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinam) informou que não tem havido aumento de encomendas que possa ser associado ao período de estiagem prolongada e que não há risco de falta do produto no mercado. Para a Abinam, alguns estabelecimentos, porém, podem não ter tido estoque suficiente para atender à maior procura dos últimos dias provocada pelo calor excessivo.
Ainda conforme a Abinam, o setor tem crescido ano a ano e registrou, só no ano passado, uma alta de 14,5%. No entanto, acrescenta a entidade, essa expansão resulta mais da busca da população por melhor qualidade de vida do que de efeitos sazonais do clima e da eventual falta na distribuição de água dos sistemas de abastecimento. Entre dezembro do ano passado e março deste ano, o setor vendeu 30% mais.