O espaço tem biblioteca, arquivo, laboratório de informática, espaço de artesanato e oferece oficinas culturais, além da exposição permanente sobre a comunidade, com fluxo de 400 a 500 pessoas por semana. ;Gera um clima de insegurança, insatisfação e indignação também, já que aqui é um espaço importante em relação à memória, para a Maré e para a cidade. Se a gente sair por causa da especulação imobiliária, é ate um contrassenso, porque a entrada do Estado pressupõe segurança para o território acompanhada de educação, cultura e cidadania, e vai levar a saída de um espaço de referência para o morador da Maré;, destacou o diretor.
Um dos participantes do ato, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) disse que pretende fazer pressão política para que o espaço seja mantido. ;Não é só o morador da Maré que tem que lutar para a manutenção do museu, eu acho que a cidade inteira não pode permitir que um espaço de cultura seja ameaçado porque o Estado resolveu entrar aqui. A primeira consequência da entrada do Estado seria a perda de um dos espaços culturais mais importantes que a cidade tem? Isso não faz o menor sentido. Então eu espero que esse prédio possa ser desapropriado e entregue à cultura do Rio de Janeiro, não só aos moradores da Maré.;
O vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Rio de Janeiro (OAB-RJ), Aderson Bussinger, foi ao ato para entender melhor a questão, depois de a entidade ter recebido uma carta relatando o caso. De acordo com ele, a OAB se compromete em fazer um parecer jurídico sobre a situação.
;Durante a semana eu pretendo designar um advogado civilista especialista em direito imobiliário para fazer um parecer sobre essa situação, [examinar] a legislação de museus, para analisar isso não só do aspecto possessório, mas do aspecto cultural. Vamos reunir tudo isso e vamos fazer um parecer jurídico da OAB a respeito desse problema. Solidários nós somos, porque isso aqui é uma iniciativa cultural e só tem a contribuir positivamente para o local.;
Moradora da Maré, a dona de casa Maria José Correia, 40 anos, relata que as duas filhas, de 3 e 15 anos, frequentam o museu e, se ele fechar, elas ficarão sem atividades. ;Eu vim apoiar porque minha filha pequena faz balé e a maior faz hip hop. É importante porque as crianças, em vez de ficar na rua, ficam aqui, têm várias atividades. Eu acho importante para a comunidade. Se fechar é ruim porque tudo que tem aqui vai acabar, tem muita coisa.;
O apoio ao museu veio também de moradores de outras parte da cidade, como a artista plástica Marta Pires Ferreira, de 75 anos, que vive em Santa Teresa. ;Vim com uma turma para dar um apoio para o museu. Eu acho importantíssimo isso aqui, é um patrimônio histórico, de memória, de resistência. Estou realmente impressionada com a organização do museu e a beleza do trabalho.;
O guia de turismo Janderson Dias mora na favela do Cerro-Corá, na zona sul, e diz que o Museu da Maré é uma inspiração para outras comunidades. ;A gente tem o mesmo projeto de criar um museu no Cerro e a gente veio aqui apoiar o Museu da Maré e juntar forças nessa luta. Lá no Cerro, a gente não tem um espaço para dizer que é nosso e fazer nossas atividades. Aqui na Maré tem esse espaço tão grande, que é uma referência para a gente, que quer preservar a memória do Cerro-Corá. Deixar esse espaço se perder é muito triste. O Museu da Maré resiste tanto pelos moradores daqui quanto pelos moradores de fora.;