O rapaz prestou depoimento ontem durante três horas no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no Bairro Lagoinha, na Região Nordeste de BH. Ele afirmou à polícia que Eliza foi levada ao local por ele, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, e o ex-policial civil José Aparecido dos Santos, o Bola.
Jorge manteve a versão de que ela morreu asfixiada por Bola, depois de levar uma gravata do ex-policial, com a ajuda de Macarrão. Em seguida, Bola decepou a mão dela e a enrolou com o corpo em um lençol antes de colocar em um saco preto com zíper. Os três foram para o lote vago, onde já havia uma cova feita aparentemente por uma retroescavadeira, arremessaram o saco e o enterraram. Ele diz que ajudou a jogar terra sobre o corpo, enquanto Bruninho, filho de Eliza com o goleiro dormia em um Ford EcoSport, que foi um presente de Bruno para sua avó, também avó de Jorge, dona Estela.
O novo depoimento de Jorge ocorreu depois que ele deu entrevista à Super Rádio Tupi, dos Diários Associados, no Rio de Janeiro, com detalhes sobre sua participação no crime. Jorge era menor de idade na época do assassinato. Desde então, deu versões diferentes para o caso, mas desta vez garante ser verdade. Na entrevista, ele descreveu o local da desova: ;Uma estrada deserta, praticamente abandonada, perto de um coqueiro curvado;.
Ele disse à rádio que está falando a verdade agora para que a mãe de Eliza, Sônia de Fátima Moura, possa fazer um enterro digno da filha. Mas antes procurou um tio para contar sua decisão e foi aconselhado para seguir em frente. Na entrevista à rádio, gravada em vídeo, ele diz: ;Chegamos à casa do Bola e entramos tranquilos. O Bola pediu pra ela me passar a criança, e ela sentou na cadeira. Falou para ela ficar tranquila, que ele era policial, que ela ficaria ali uma noite só e que no outro dia iria para o apartamento;, afirma Jorge. Mas acabou matando a moça por asfixia.
Como no depoimento à noite, ele disse à rádio que Bola cortou a mão de Eliza. ; Não tem nada de esquartejamento. Ela está inteira;, contou. ;Levamos (o corpo) para esse sítio, Só chegou lá e ele jogou ela (sic) como se fosse um nada, um lixo, e enterramos. O Bola falou para o Macarrão que ali não tinha como achar. O buraco onde ela está dava para jogar uns 10 corpos;, afirmou
A entrevista do primo do goleiro mobilizou as polícias do Rio de Janeiro, onde ele mora, e de Minas. O rapaz deixou o Rio por volta das 5h de ontem, acompanhado do tio, policiais do Comando de Operações Especiais (COE) e do advogado Nélio Andrade, em direção a Vespasiano, onde chegaram no início da tarde. Eles rodaram de carro por cerca de duas horas e Jorge disse estar perdido. Depois, ele pediu para começar tudo de novo partindo da casa de Bola, onde Eliza foi morta, e conseguiram chegar ao local descrito por ele.
Andrade, que afirma não ser defensor de Jorge, mas orientador jurídico, disse que Jorge pediu para a polícia levá-lo à casa de Bola, para ter um ponto de partida. De acordo com Andrade, ao passar perto do terreno, distante oito minutos de carro do imóvel onde Elisa foi executada, ele pediu que parassem, desceu, começou a chorar e apontou o local. Segundo Andrade, o rapaz está com muito medo e pediu proteção. Ele está sob a guarda de policiais do COE, do Rio de Janeiro.
Coerência
O delegado Wagner Pinto, chefe do DHPP, informou que Jorge deu muitos detalhes no depoimento. Ontem, a polícia isolou o local, onde ficaram agentes durante toda a madrugada para preservar a possível cena do crime. ;O julgamento desse caso ocorreu com base na materialidade indireta. O corpo dá a materialidade total ao sequestro, cárcere, homicídio e ocultação de cadáver da vítima;, afirmou Pinto.
O delegado informou também que a existência de um único coqueiro, descrito por Jorge como o ponto que demarca a cena, é um fator que dá ainda mais crédito à versão. ;Ele afirma, com 100% de certeza, que o lugar é aquele, mas tudo será comprovado amanhã (hoje). Vejo a versão dele com certa coerência e acredito que o caso está muito perto de ser resolvido;, disse.
O policial afirmou que a descoberta não muda as penas dos cinco condenados pelo assassinato de Elisa nem as investigações. O primo de Bruno, que na época era menor de idade e cumpriu medida socioeducativa, também não terá a pena alterada. Agora, ele é considerado um colaborador do caso.
Bruno foi condenado a 22 anos e três meses de prisão pelo assassinato e ocultação de cadáver de Eliza e pelo sequestro e cárcere privado de Bruninho. Macarrão pegou 15 anos de prisão por homicídio qualificado. Bola foi condenado a 22 anos por homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver. Fernanda de Castro, ex-namorada de Bruno, pegou cinco anos de prisão.
Esperança
O advogado José Arteiro, assistente de acusação no processo de Bruno, disse que a mãe de Eliza quer enterrar o corpo. O desejo de Sônia ;é ter pelo menos um pedacinho de osso da filha para fazer um sepultamento digno;, afirmou. A advogada de Sônia, Maria Lúcia Vargem Gomes, afirmou que ela tinha certeza que um dos envolvidos no crime contaria onde estava o corpo da filha. Já o advogado do goleiro, Francisco Simin, entende que se o corpo for encontrado, a pena de Bruno cairia de 22 anos e três meses para 17 anos, pois ele foi julgado também por ocultação de cadáver e não estava presente no momento em que o corpo foi enterrado. ;Vamos esperar confirmar a informação para ver se tem algo em prol do Bruno;, disse Simin.
Procura em vão
Desde 24 de junho de 2010, quando surgiram as primeiras denúncias sobre o sumiço de Eliza Samudio, a polícia fez várias tentativas de achar o corpo
26 de junho de 2010
Policiais e bombeiros levaram pás e enxadas para o Condomínio Turmalina, em Esmeraldas, no sítio de Bruno. Eliza foi vista lá pela última vez. Sem mandado de busca e apreensão, só puderam iniciar a procura no dia seguinte. Policiais voltaram ao local em julho e em outubro.
29 de junho de 2010
Denúncias levaram policiais à Mata das Abóboras, em Contagem. A busca foi inútil, pois nenhum corpo foi encontrado.
7 de julho de 2010
Bombeiros foram à Lagoa Suja, no Bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, depois de uma ligação anônima. Somente na manhã daquele dia, o Disque-Denúncia mineiro recebeu mais de 40 informações sobre o possível paradeiro de Eliza.
7 de julho de 2010
A casa do ex-policial Marcos Aparecido, o Bola, foi alvo de uma varredura, com base no depoimento de Jorge, primo de Bruno, de que o corpo de Eliza havia sido dado a cães no imóvel.
9 de julho de 2010
Foi a vez das buscas se estenderem ao sítio alugado por Bola, em Esmeraldas, onde ele dava treinamento a policiais.
3 de novembro de 2010
Com base em informações de que, no dia do crime, Bola fez ligações próximo ao Parque Lagoa do Nado, no Bairro Planalto, o local foi alvo de varreduras nas matas e na lagoa por dois dias, com ajuda de oito bombeiros mergulhadores.
22 de junho de 2012
Uma carta e um telefonema anônimo para a mãe de Eliza e o advogado da família apontavam que o corpo teria sido jogado num poço numa propriedade nos fundos do Parque Lagoa do Nado. Moradores vizinhos ao local se arriscaram em buscas improvisadas, mas a polícia descartou a denúncia.
28 de agosto de 2012
Uma denúncia anônima levou equipes da polícia e bombeiros a nova busca no Condomínio Turmalina, em uma área na entrada do sítio que pertenceu a Bruno, em Esmeraldas. Com o julgamento e condenação dos envolvidos na trama, não houve novas denúncias sobre o paradeiro do corpo de Eliza até ontem, quando o primo do goleiro disse saber o local.