Jornalismo, literatura, cinema, televisão. O escritor baiano João Ubaldo Ribeiro foi um dos poucos que soube passear por diversas áreas com facilidade e reconhecimento, no Brasil e no mundo. Essa trajetória de sucesso foi interrompida nesta sexta-feira, por uma embolia pulmonar, que resultou na morte do escritor, aos 73 anos. João Ubaldo deixa quatro filhos, Emília, Manuela, Banto e Francisca.
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Nascido na Ilha de Itaparica, em 23 de janeiro de 1941, João Ubaldo Ribeiro é o filho mais velho do casal Maria Felipa Osório Pimentel e Manoel Ribeiro. Ainda aos dois meses de idade, mudou-se para a cidade de Aracaju, Sergipe, onde foi alfabetizado e conheceu o amigo Glauber Rocha, com quem frequentou as aulas no Colégio da Bahia, em 1956.
Precoce, começou a trabalhar com jornalismo em 1957, como repórter no ;Jornal da Bahia;. Em 1958, inicia o curso de Direito na Universidade Federal da Bahia. Apesar de concluir os estudos, nunca exerceu a profissão, dividindo o tempo entre os sisudos livros de Direito, com a edição de revistas e jornais culturais ao lado de Glauber Rocha, além do envolvimento com o Movimento Estudantil. Na mesma universidade, concluiu a pós-graduação em Administração Pública.
Sua primeira experiência na literatura foi em 1959, com a publicação do conto ;Lugar e circunstância;, na antologia ;Panorama do Conto Bahiano;, organizada por Nelson de Araújo e Vasconcelos Maia. Em 1961, teve os textos ;Josefina;, ;Decalião;, e ;O campeão; publicados na coletânea ;Reunião;, ao lado dos escritores David Salles, Noêmio Spinola e Sonia Coutinho. O primeiro romance veio em 1963: ;Setembro não faz sentido;.
Já de volta ao Brasil, em 1965 leciona Ciências Políticas na Universidade Federal da Bahia, carreira da qual desiste novamente pelo jornalismo. Em paralelo, continua escrevendo contos e romances, como o aclamado livro ;Sargento Getúlio;, com o qual foi vencedor do Prêmio Jabuti em 1972, na categoria ;Revelação de Autor;. A publicação foi lançada também nos EUA, em 1978, com tradução feita pelo próprio autor, com ótima recepção. Em 1974, lança o livro de contos ;Vencecavalo e o outro povo;.
Em 1981, mais um vez por conta de uma bolsa de estudos ; concedida pela Fundação Calouste Gulbenkian ; muda-se do Brasil, agora para Lisboa, em Portugal. Lá edita, ao lado do jornalista Tarso de Castro, a revista ;Careta;.
Novamente no Rio de Janeiro, lança ;Política; e a coletânea de contos ;Livro de Histórias; - que depois seria republicado com o título de ;Já podeis da pátria filhos;. A estreia na literatura infanto-juvenil vem com ;Vida e paixão de Pandonar, o cruel;, lançado em 1983. No mesmo ano, o sucesso ;Sargento Getúlio; é adaptado para o cinema pelo diretor Hermano Penna, com o personagem principal vivido por Lima Duarte.
O segundo Prêmio Jabuti da carreira foi recebido na categoria ;Romance;, pelo livro ;Viva o Povo Brasileiro;, editado em 1984. A publicação também levou o Golfinho de Ouro, do governo do Rio de Janeiro. João Ubaldo ainda recebeu os louros de uma das festas mais populares do mundo, o carnaval, tendo o livro escolhido como samba-enredo da escola Império da Tijuca, em 1987.
Um dos grandes sucessos do autor, ;O sorriso do Lagarto;, é lançado em 1989. Dois anos depois, o romance seria adaptado para minissérie da Rede Globo, por Walter Negrão e Geraldo Carneiro, tendo grandes nomes como Maitê Proença e Tony Ramos no elenco.
Em 1990 parte para Berlim, na Alemanha, onde morou por pouco mais de um ano, à convite da Deutsch Akademischer Austauschdienst. Na cidade, contribuiu com crônicas semanais para o jornal ;Frankfurter Rundschau;. Teve a oportunidade também de trabalhar com rádio, produzindo adaptações para o veículo, entre elas a de seu conto ;O santo que não acreditava em Deus;. O mesmo conto foi adaptado para a Rede Globo, dentro da série ;Caso Especial;, veiculada em 1993. No dia 7 de outubro do mesmo ano foi eleto para a cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras, na vaga que era ocupada anteriormente pelo jornalista Carlos Castello Branco.
Em parceria com o cineasta Cacá Diegues, trabalha na adaptação para o cinema no clássico de Jorge Amado ;Tieta do Agreste;, em 1994. Os dois voltariam a trabalhar juntos nos anos 2000, no roteiro do filme ;Deus é brasileiro;, estrelado por Antônio Fagundes e baseado no conto ; O santo que não acreditava em Deus;.
O ano de 1999 marcou outro grande ; e polêmico - lançamento de João Ubaldo. ;A Casa dos Budas Ditosos;, livro da série ;Plenos Pecados;, da Editora Objetiva. Versando sobre a luxúria, o livro é narrado por uma mulher de 68 anos, nascida na Bahia, falando de sua própria vida, e de como jamais se furtou a viver as infinitas possibilidades do sexo. Editado em diversos países, a venda do romance foi proibida em redes de supermercados portuguesas por conta de seu conteúdo sexual.
Em 2008, João Ubaldo Ribeiro foi agraciado com o Prêmio Camões, considerado o maior reconhecimento da língua portuguesa. ;O albatroz azul; foi o último livro lançado pelo escritor, em 2009. Ele traz a história de um homem muito velho que, apesar de detentor da sabedoria trazida por todos os seus anos de existência, ainda busca apreender algum sentido na vida.