Mais duas pessoas foram detidas nesta tarde, nas proximidades do Cais José Estelita, na capital pernambucana.
De acordo com a Polícia Militar (PM) de Pernambuco, uma delas foi presa por portar um coquetel-molotov e a outra, por desacato. Com isso, chega a seis o número de detidos. Os conflitos entre os policiais e os ocupantes do cais ocorrem desde a manhã. Já houve quatro confrontos. De acordo com os ativistas, há o uso desproporcional da força e os feridos somam dezenas.
Os ocupantes da área foram supreendidos por volta das 5h pela PM. Desde então, eles deixaram o cais, mas permaneceram nas proximidades. "Já foram quatro ações do Choque. A terceira foi a pior, o coletivo estava em assembleia, em uma praça em frente à ocupação. Fomos atingidos sentados no chão", diz a advogada do Centro Popular de Direitos Humanos Carla Guareschi.
Para fugir dos policiais, os ativistas foram para a avenida e fecharam o trânsito, durante cerca de 40 minutos, na intersecção entre a área central e a zona sul do Recife. "Quando estávamos deixando a via, o Choque agiu novamente de surpresa", disse Carla. Agora os ocupantes do cais reúnem-se em assembleia em um viaduto próximo. Segundo a advogada, das 400 pessoas que estavam no local, permanecem 200. A PM estima o número em 100.
[SAIBAMAIS]A polícia usou gás lacrimogêneo, bombas de efeito moral, spray de pimenta e balas de borracha para dispensar os ativistas. "Foi uma covardia e truculência que nunca vi na minha vida", diz a médica Rafaela Pacheco, que estava no local de manhã. "As pessoas foram encurraladas pela tropa de choque e pela cavalaria. Fecharam o cerco e começaram a atirar balas de borracha à queima-roupa".
Ela conta que tentou entrar no local como médica, mas foi impedida de se aproximar. "Havia mulheres grávidas e crianças no local. Fiz dezenas de atendimentos, limpeza de feridas de estilhaços de bomba e chicotadas. A cavalaria estava usando os chicotes para bater nas pessoas". Carla disse que os ocupantes do cais buscarão reparos para as violações de direitos humanos sofridas.
Para o porta-voz da PM, capitão Júlio Aragão, a ação foi legítima e a polícia cumpria ordem judicial de reintegração de posse. "Aqueles que julgarem que os policias se excederam [no uso da força] devem procurar a Corregedoria e relatar queixa", disse Aragão.
A Anistia Internacional divulgou nota pública condenando o uso excessivo de força pela PM. "Os manifestantes estavam em negociação com autoridades locais, com acompanhamento do Ministério Público, e havia o compromisso de que qualquer reintegração de posse teria um aviso prévio de 48 horas", diz a nota. A Anistia Internacional pede a investigação "imediata dos abusos cometidos pela Polícia Militar e que seja retomada a negociação com os participantes da ocupação".
Mais cedo, o Ministério Público Federal (MPF) em Pernambuco também repudiou a ação policial, alegando ter sido surpreendido pelo cumprimento da ordem de reintegração de posse.
Os manifestantes estavam acampados no local desde o último dia 21, para impedir que o local fosse demolido para construção de edifícios, como parte do projeto Novo Recife. Em nota de esclarecimento divulgada nesta tarde, a prefeitura informou que a licença de demolição já concedida ao consórcio continua suspensa. O Consórcio Novo Recife não poderá reiniciar a demolição das construções existentes no local até que a Justiça se pronuncie sobre o assunto.