A única televisão que o desempregado Ronaldo da Silva tem para ver a Copa só passa a cor vermelha e ainda por cima cheia de chuviscos. Fica impossível diferenciar quem está jogando. Mas esse não é o maior problema dele e das demais 207 famílias expulsas no dia 11 de abril deste ano do terreno onde pretendiam habitar, pertencente à empresa Oi, sucessora da antiga Telerj.
Alguns moradores são bebês de colo, como é o caso do pequeno Carlos Júnior, de 4 meses, filho do pedreiro Carlos Alessandro de Souza e de Fernanda. Eles moram em uma barraca bem na entrada da quadra. Quando foram expulsos da área da Oi/Telerj, ficaram morando com o bebê na calçada. ;Eu estou desempregado e atualmente vivo de biscates. Nós ocupamos o prédio da Oi porque o aluguel subiu muito e ficamos sem condições de pagar. O pouco dinheiro que tinha, investi em madeiramento, mas ficou tudo lá;, contou Carlos. Outros quatro filhos do casal foram espalhados em casas de parentes, para não perderem a escola e o Bolsa Família.
;Estamos todos esquecidos aqui, abandonados. Não tem clima de Copa. Ficamos sem nada. Não consegui reconstruir minha vida e até hoje estou aqui;, lamentou Rosemeri Santos, que está encostada por motivo de saúde pela Previdência Social. ;Não dá para ter clima de Copa, nem de alegria, se a gente está vivendo nesta situação precária. Este é o Brasil que a gente vive. A gente é que nem poeira, lixo, que eles varrem e jogam para debaixo do tapete. Só lembram da gente quando precisam do nosso voto;, protestou Vitória de Almeida Silva, que mora no espaço com o marido.
A Secretaria Municipal de Habitação informou, por meio da assessoria, que no terreno da antiga Oi/Telerj será construído um conjunto habitacional com cerca de 1.300 apartamentos, mas ainda não houve formalização da compra do imóvel. Contudo, a posse das unidades, por meio do Programa Minha Casa, Minha Vida, será feita por sorteio e não significa que os ex-ocupantes sejam necessariamente beneficiados. Até 2016, a prefeitura pretende ter 100 mil unidades habitacionais contratadas, entre imóveis entregues e em construção.
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social informou, em nota, que das 207 famílias alojadas na Igreja Nossa Senhora do Loreto, 187 já foram atendidas e que foram realizadas 158 inscrições no Cadastro Único. Também foram oferecidos cursos de capacitação profissional, além da possibilidade de retirada de segunda via de documentos, pois muitos moradores perderam até suas identidades quando foram expulsos da área que ocupavam. Segundo a prefeitura, o déficit habitacional no Rio é 148 mil unidades.