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Católicos e muçulmanos apoiam retirada de vídeos de intolerância religiosa

"Estaremos junto na necessidade de se fazer respeitar todos os segmentos, seja afro, judeu, cristão ou muçulmanos", diz arcebispo do Rio de Janeiro

Organizações religiosas vão entrar com pedido na Justiça para participarem como amicus curiae no processo que pede a retirada da internet de vídeos com mensagens de intolerância aos cultos afro-brasileiros. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (11/6) depois de reunião da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), na sede da Arquidiocese do Rio de Janeiro. No encontro, a Igreja Católica e a Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio de Janeiro anunciaram apoio à causa dos praticantes das religiões de matriz africana.

A atuação como amicus curiae vai permitir que sejam ouvidos no processo como terceiros, em benefício do interesse do julgamento. Na terça-feira (10/6), o Ministério da Justiça anunciou um grupo de trabalho para debater ações de enfrentamento à discriminação e à violência contra praticantes de religiões de matriz africana, depois de reunião entre o ministro José Eduardo Cardozo e líderes do candomblé e da umbanda, que foram a Brasília pedir garantias para a liberdade de culto.

O arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, disse que, ao decidir participar do processo, a igreja reafirma a defesa da liberdade de expressão e de comunicação em um país laico e ;que, portanto, deve respeitar todas as religiões;. ;Estaremos junto na necessidade de se fazer respeitar todos os segmentos, seja afro, judeu, cristão ou muçulmanos;, frisou dom Orani.



Da Sociedade Beneficente Mulçumana, o líder Samy Armed Isbelle afirmou que o preconceito persegue várias religiões. ;Temos na realidade, hoje, um ataque ao que é sagrado, à religiosidade das pessoas. Na internet, vamos encontrar centenas de vídeos atacando o Islã. Então, nos unimos em defesa do sagrado, na defesa da prática de todas as religiões;, acrescentou.

Na ocasião, o interlocutor da CCIR, o babalorixá Ivanir dos Santos, completou que há diferenças entre a liberdade de expressão e a ;disseminação do ódio;. Na análise dele, a manutenção dos vídeos estimula atos de preconceito contra quem pratica religiões afro. Segundo a comissão, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs também deve entrar com amicus curiae.

As adesões chegam depois que o primeiro juiz do caso, Eugênio Rosa de Araújo, negou a retirada dos vídeos da internet por considerar que as religiões afro-brasileiras ;não contêm os traços necessários de religião;, como um texto-base, a exemplo de livro sagrado, uma estrutura hierárquica e um Deus a ser venerado. Depois, o juiz se retratou, mas manteve o conteúdo questionado no ar. Religiosos condenaram a decisão.

Segundo Ivanir, esse tipo de decisão é um incentivo ao ataque às religiões. ;Uma menina foi discriminada uma semana depois daquele episódio. Quando ela disse que era candomblecista, a professora de religião disse que não era religião e era ilegal;, contou o babalorixá.

Ainda hoje, o interlocutor da CCIR também presta queixa de ameaça de morte às 17h, na sede da Polícia Civil. O babalorixá recebeu uma mensagem com ameaça via celular. Segundo ele, esta é a segunda vez que recebe intimidações com esse tom. A outra aconteceu há três anos.