Jornal Correio Braziliense

Brasil

Governo do Rio de Janeiro lança nova etapa da campanha de desarmamento

Entre 2004 e 2005, foram recolhidas 560 mil armas de fogo no Brasil

Uma nova etapa da campanha de entrega voluntária de armas de fogo e munições do Rio de Janeiro, foi lançada nesta quinta-feira (15/5). "Sensibilização e alinhamento da Campanha Nacional do Desarmamento" é o mote da iniciativa, que tem como objetivo estender a campanha para outros municípios do estado, como Resende, Duque de Caxias, Cabo Frio, Macaé e Nova Friburgo.

O cidadão que quiser entregar arma de fogo ou munições poderá fazê-lo em qualquer delegacia da Polícia Civil ou batalhão da Polícia Militar. O secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, defendeu que o desarmamento da sociedade civil. Para ele, o principal problema que o estado enfrenta, hoje, é a consequência que o uso da arma de fogo pode causar.

"Essa arma que você tem em casa, ela pode parar muitas vezes na mão de uma pessoa que, além de não ser habilitada, tem outras intenções ao fazer uso dessa arma;, disse Beltrame.

Entre 2004 e 2005, foram recolhidas 560 mil armas de fogo no Brasil. Nos anos seguintes, a campanha foi interrompida. Em 2011, após a tragédia na escola Tasso da Silveira, em Realengo, o desarmamento voltou a ser discutido e uma campanha engajou os estados em iniciativas nacionais contra o porte de armas.

De 2011 até agora, a Polícia Militar do Rio de Janeiro arrecadou cerca de 10 mil itens bélicos, entre armas de fogo e munições. O número, segundo o subcoordenador da PM do Rio, capitão Martins, não é o ideal. "A gente precisa que o cidadão venha a ter conhecimento da campanha porque vai passando o tempo e as pessoas pensam que a campanha acabou, só que a campanha é contínua, não acaba e a nossa intenção é aumentar essa arrecadação que pode ser muito melhor que isso;, disse, acrescentando que a expectativa é que a redução do porte também diminua as mortes causadas por armas de fogo.



Para o integrante da campanha e da ONG Viva Rio, Luiz Carlos Silveira, o número de armas arrecadadas é muito reduzido ante o de homicídios. "Nós não podemos conviver com 50 mil homicídios por ano. 70% deles são cometidos por armas de fogo. Isso aí só país em guerra. Hoje nós temos mais de 5 milhões de armas em mãos da sociedade civil, a maioria delas ilegais;, declarou.

Silveira destacou que, em 2006, a Viva Rio constatou a redução de 11% do índice de arma de fogo em poder da população. No período, cinco mil pessoas deixaram de ser mortas no período. Para ele, ;falta ao governo chamar para si a responsabilidade de fazer anúncios da campanha, que as armas ilegais não devem permanecer em mãos da sociedade civil. Que elas devem ser entregues".

Ele alerta, contudo, que o problema é complexo. A posse de armas por parte de policiais também deve ser debatida, pois há um alto índice de homicídios registrados no Rio. "Eles não morrem em serviço. Eles morrem fora de serviço. Infelizmente eles estão em uma situação que, se descobertos, eles morrem", disse.

Silveira também aponta o roubo ou furto de armas como questão que deve ser enfrentada. ;A pesquisa que nós fizemos em 2005 com a Polícia Civil mostrou que 70% das armas que estavam nas mãos dos bandidos eram armas de fabricação nacional".

A psicóloga aposentada Regina Célia Bordallo, 68, perdeu o filho, um jovem engenheiro, vítima de uma bala perdida no Morro do Salgueiro, na Tijuca. "Meu filho assoviou para minha neta quando ele estava chegando. Alguns policiais estavam descendo o morro, o abordaram perguntando o que ele estava fazendo e falaram que invadiriam a casa. Houve um diálogo não muito amistoso e meu filho recebeu um tiro na cabeça;, recordou.

Bordallo integra uma entidade que luta pela dignidade das famílias, inclusive de policiais, que perderam entes em situações semelhantes, a ONG Mães sem nome. De acordo com ela, ;A sensação que eu tenho quando se fala em desarmamento hoje, é uma sensação de que o desarmamento tem que ser feito gradualmente com as pessoas que têm o direito de ter arma;.