Sob gritos por justiça, fogos e protestos, o corpo do dançarino Douglas Rafael Pereira, conhecido como DG, foi enterrado ontem no Cemitério São João Baptista, em Botafogo (Zona Sul do Rio de Janeiro). Depois do sepultamento, uma passeata parou parte de Copacabana. A polícia, chamada de assassina pelos manifestantes, interveio com bombas. Houve tumulto e tensão. DG foi encontrado sem vida em uma creche na Favela Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, na manhã de terça-feira, com um ferimento de bala no peito. Há suspeita de que agentes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do morro tenham assassinado o rapaz. Moradores teriam impedido os PMs de retirar o corpo do local.
Investigadores da Polícia Civil recolheram ontem seis fuzis e 10 pistolas usados pelos policiais militares que participavam de operação na noite de segunda-feira na favela para capturar um traficante. Oito já foram ouvidos. Embora não tenha sido encontrado nenhum projétil na cena do crime ; para se fazer a comparação balística ;, é possível chegar ao autor do disparo por outras formas de apuração, tais como reconstituição e análise de trajetória da bala. A repercussão do caso levou o secretário de Segurança Pública do estado, José Mariano Beltrame, a um programa matinal da TV Globo, ontem. Ele garantiu que ;cortará na própria carne; se ficar comprovada a responsabilidade dos policiais da UPP na morte de DG e que ele ;não será outro Amarildo;, em referência ao ajudante de pedreiro torturado e morto por PMs da UPP da Rocinha.
O bombeiro civil Paulo Henrique dos Santos, de 37 anos, conhecido como Hulk no meio funkeiro, declarou à imprensa que estava com o dançarino em uma festa no Pavão-Pavãozinho, no último sábado, quando receberam ameaças de policiais militares. Hulk contou que, por volta das 4h, os PMs chamaram os dois de bandidos, que eles só viviam no meio de bandidos. Santos não foi ouvido pelos investigadores ainda. Ele, que é morador do morro onde o amigo foi assassinado, falará com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) na semana que vem. DG não morava na favela, mas ia ao local frequentemente para visitar a filha, de 4 anos, e ensaiar com o grupo Bonde da Madrugada, do qual era integrante.
Maria de Fátima da Silva voltou a falar que o filho não foi confundido com um traficante. Ela acredita que DG, por já ter discutido com agentes da UPP do Pavão-Pavãozinho, foi torturado e assassinado pelos PMs. Ontem, no velório, ela se queixou da presença da polícia nos arredores, devido ao risco de tumulto em meio ao protesto de amigos e parentes do filho. Maria de Fátima prometeu levar o caso para a Anistia Internacional. Ela afirmou, em entrevistas dadas seguidamente a canais de televisão, que pelo menos uma pessoa viu DG ser morto. A mãe do dançarino agradeceu, mais uma vez, aos moradores da favela por não terem deixado a UPP ;sumir; com o corpo de Douglas.
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