Jornal Correio Braziliense

Brasil

Marcha da Família tem confronto de grupos pró e contra intervenção militar

Um grupo estimado em 150 pessoas pela Polícia Militar participava da tentativa de reeditar a Marcha da Família com Deus Pela Liberdade, 50 anos depois do movimento que antecedeu o golpe militar em 1964



O movimento que pedia intervenção militar no país se concentrou na Candelária e seguiu pela Avenida Presidente Vargas, que teve uma de suas pistas interditadas. Com gritos de "fora, PT", "fora, comunismo" e "fora, Dilma", os manifestantes levantavam cartazes que pediam a troca das eleições por um governo militar que "limpasse o Congresso de corruptos". Com bandeiras do Brasil e faixas, o grupo parou diante do Palácio Duque de Caxias e cantou o Hino Nacional. Depois, continuaram os gritos de rejeição ao governo e ao sistema político.

Um ativista que transmitia o evento ao vivo pela internet foi hostilizado por membros da marcha aos gritos de "Vá para Cuba, você não é brasileiro". Um dos manifestantes, então, deu um tapa no celular que era usado para a filmagem e o derrubou no chão. Sem se exaltar, o ativista pegou o aparelho de volta e se afastou.

Um dos organizadores da Marcha da Família, o cabo da reserva do Exército Emílio Alarcon, ponderou que, apesar dos pedidos de intervenção, a intenção deles não é a instauração de uma ditadura militar. Para ele, as Forças Armadas devem fechar o Congresso e derrubar o Executivo, para convocar novas eleições apenas com candidatos ficha limpa. "A intervenção é constitucional. A gente não está pedindo nada de anormal", disse ele.

Para reivindicar a intervenção, os militantes desse grupo usaram o Artigo 142 da Constituição, que diz: "As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do presidente da República, e destinam-se à defesa da pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem". Na interpretação do grupo, tal obrigação de garantir os poderes justificaria a intervenção, já que há problemas institucionais graves que só podem ser resolvidos dessa forma: "seria um reset, formatar de novo o Brasil. Todos os partidos estão envolvidos em corrupção", argumentou Alarcon.

O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) compareceu à marcha, mas não se posicionou a favor do pedido de intervenção militar, por entender que isso descaracteriza o movimento. "Estou aqui como um patriota", disse Bolsonaro.

Na manifestação contra a marcha, militantes usaram palavras como anencéfalos e assassinos para provocar os defensores da intervenção. Em um dos cartazes, havia o pedido: "Paredão aos torturadores do regime militar". "Este movimento quer a união da ditadura do capital à ditadura militar. Hoje, vivemos a ditadura do capital, porque um governo que remove famílias e leiloa o petróleo e o gás não está em busca dos nossos interesses, e sim dos norte-americanos. Esta marcha é uma demência. Só um tarado pode defender um regime que torturou e matou", disse André de Paula, membro da Frente Internacionalista dos Sem-Teto.

A militante dos direitos LGBT Indianara Siqueira também se manifestou contra a Marcha da Família: "São pessoas que acham que perderam muito com a nossa sociedade mais liberal, de certa maneira. Eles falam em família como se nós não tivéssemos uma família, como se não pertencêssemos a nenhuma família e brotássemos como cogumelos do chão", protestou Indianara.