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Marido diz que mulher foi morta pela polícia quando saiu para comprar pão

Alexandre Fernandes da Silva disse que pretende processar o Estado e negou que ela tenha sido morta em troca de tiros, como justificou a polícia do Rio de Janeiro

Durante o velório da auxiliar de serviços gerais Cláudia Ferreira da Silva, nesta segunda-feira (17/3), no Cemitério de Irajá, na zona norte do Rio, seu marido informou que pretende processar o Estado e negou que ela tenha sido morta em troca de tiros, como justificou a polícia. Alexandre Fernandes da Silva disse que a esposa foi atingida quando saiu para comprar pão. Ela foi baleada ontem (16/3), em operação da Polícia Militar (PM) no Morro da Congonha, em Madureira, zona norte do Rio, e teve o corpo arrastado durante o socorro prestado em uma viatura policial, chegando morta ao hospital, segundo a Secretaria Estadual da Saúde.

Cláudia foi atingida por dois tiros durante a operação e foi colocada pelos policiais no porta-malas de um carro do 9; Batalhão da PM, em Rocha Miranda, para prestar socorro, segundo alegaram. No transporte, a porta traseira abriu e a auxiliar de serviços gerais ficou presa do lado de fora do veículo, sendo arrastada. Os policiais disseram que estavam levando a vítima para o Hospital Carlos Chagas. A mulher tinha quatro filhos e ainda cuidava de quatro sobrinhos. Ela completaria 20 anos de casamento no dia 18 de setembro.

;Chegaram atirando nela. De frente para ela. Não foi troca de tiro. Eles deram um tiro nela, no peito e outro no pescoço. Eles passaram no meio do tumulto, viram alguma coisa e chegaram atirando", revelou Alexandre, acrescentando que a mulher saiu de casa para comprar pão e mortadela e tinha na mão apenas três notas de R$ 2 e um copo de café. "Vivemos à mercê dos fora da lei e da polícia, que deveria nos proteger. A polícia entra [na comunidade] e não quer saber quem é trabalhador;, completou.



[SAIBAMAIS]Revoltado pela mulher ter sido classificada no boletim de ocorrência policial como traficante, o marido apontava a quantidade de colegas presentes no velório trazendo solidariedade à família. ;Está chegando mais um ônibus da Nova Rio [empresa em que a esposa trabalhava] para a traficante, que saía todo dia 5h30 da manhã quando pegava [o serviço] às 7h. Depois saía às 4h20, quando passou a pegar às 6h. A traficante que eles botaram quatro revólveres em cima e arrastaram que nem um bicho;, contou.

Alexandre disse que, se a polícia tivesse deixado Cláudia no local para esperar o trabalho da perícia, a revolta seria menor. Ele não viu o vídeo em que o corpo da mulher aparece sendo arrastado pelo carro da PM. ;Eu prefiro não ver e vou pedir os meus filhos para não ver, porque vai ser revoltante;, explicou.

A cunhada da vítima, Valéria Rodrigues, disse que toda a família está sofrendo, e defendeu a apuração do que ocorreu. ;Uma coisa muito triste que fizeram com ela, e a gente tem que correr atrás e pedir justiça para provar que ela era trabalhadora, com carteira assinada e contracheque, tudo direitinho;, contou.

Os colegas de trabalho também estavam indignados. ;Ela é mãe de família e trabalhava com a gente. Eles botaram ela dentro do carro dizendo que era bandida. A gente não tem nem palavra [para explicar como era Cláudia]. Muito maneira, maneira mesmo. A gente tem que botar o caso para frente e ajudar a família dela;, disse a auxiliar de serviços gerais Lúcia Helena Sacramento. Outro colega, Rodney Conceição de Oliveira, criticou a polícia. ;Eu trabalhava diretamente com ela. Revolta [a todos] porque a polícia está para proteger as pessoas e acontece isso;, desabafou.

Após o enterro, moradores do Morro da Congonha voltaram protestar na principal via do bairro, interrompendo as duas pistas da Avenida Edgard Romero portando uma faixa preta e pedindo justiça pela morte da auxiliar de serviços gerais. Com pouco mais de meia hora, uma das vias foi liberada e um reboque retirou a carcaça de um ônibus incendiado em manifestação que os moradores fizeram ontem.

Duas horas depois, a polícia interditou o trânsito nas duas pistas. Em outro acesso do Morro da Congonha, os manifestantes atearam fogo a pedaços de madeira e lixeiras. A fumaça pôde ser vista à distância. Moradores da localidade querem a apuração do caso que provocou a prisão dos três policiais militares que conduziam a mulher e a abertura de um inquérito policial militar.