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Campanha da Fraternidade faz chamado para combate ao tráfico humano

Durante a solenidade de lançamento, o secretário-geral da CNBB disse que o crime viola a dignidade das pessoas submetidas e que a prática é fruto da sociedade em que vivemos



A solenidade contou ainda com a presença do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que elogiou a iniciativa e classificou o tráfico de pessoas como uma prática subterrânea, devido à dificuldade de verificar sua ocorrência. "É inaceitável que pessoas sejam tratadas como escravas", disse Cardozo para quem o crime tem que ser combatido de forma conjunta com a sociedade. "Temos esta oportunidade de junção de forças com a sociedade, através da Campanha da Fraternidade e da formação de um comitê conjunto para aprimorar as políticas de Estado, receber sugestões e ao mesmo tempo enraizar atuações na sociedade", complementou.

Cardozo lembrou que não existem dados precisos sobre a quantidade de pessoas traficadas já que, muitas vezes, vítimas e familiares têm vergonha de revelar a situação de exploração. "Infelizmente o número de inquéritos policiais abertos relativos ao tráfico de pessoas ainda é pequeno em comparação ao volume da realização desse crime. Isto acontece porque as pessoas não noticiam o tráfico. Às vezes as pessoas têm vergonha de falar que foram vítimas desse crime, os familiares também não denunciam e muitas vezes as pessoas imaginam que estão sendo ajudadas por aqueles que são os verdadeiros autores e mentores deste tipo de crime", disse.

[SAIBAMAIS]A pesquisa Diagnóstico sobre Tráfico de Pessoas nas Áreas de Fronteira no Brasil, divulgada pelo governo federal em outubro do ano passado, aponta que, entre 2005 e 2011, um terço dos indiciados por tráfico de pessoas foi preso em região de fronteira. Dos 384 indiciamentos, 128 foram registrados na fronteira brasileira que tem 15.719 quilômetros de extensão ao longo de 11 estados ; Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Roraima, Rondônia e Santa Catarina.

O levantamento constatou que as pessoas geralmente são traficadas para fins de exploração sexual e trabalho escravo. Também detectou situações como pessoas traficadas para a prática de mendicância e de crianças e adolescentes para servidão doméstica. A maioria dos casos de tráfico para exploração sexual foi identificada nos estados de Roraima, Rondônia, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Amapá e Acre.

A maioria das vítimas são mulheres, na faixa etária de 18 a 29 anos. Além das mulheres, também são vítimas do tráfico humano crianças e adolescentes, travestis e transgêneros, geralmente em condição de vulnerabilidade, seja pelas condições socioeconômicas, seja pela presença de conflitos familiares, seja pela violência sofrida na família de origem.

A Campanha da Fraternidade é lançada no primeiro dia da Quaresma (período do ano litúrgico que antecede a Páscoa). Para os cristãos, a Quarta-Feira de Cinzas simboliza o dever da conversão e da mudança de vida, para recordar a fragilidade da vida humana, sujeita à morte. De acordo com a CNBB, os recursos arrecadados com a campanha serão utilizados em projetos de identificação e combate de situações de tráfico humano.