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Crise na Venezuela divide manifestantes em São Paulo

Os manifestantes favoráveis a Maduro estavam em maior número (cerca de 60 pessoas) e chegaram antes, por volta das 14h

De um lado da rua, manifestantes favoráveis à permanência de Nicolás Maduro no governo da Venezuela. Do outro, manifestantes que pedem a saída do atual presidente do país. Ambos reunidos, na tarde de desta quarta-feira (19/2), em frente ao Consulado Geral da República Bolivariana, em São Paulo. Ao mesmo tempo e de forma pacífica.

Os manifestantes favoráveis a Maduro estavam em maior número (cerca de 60 pessoas) e chegaram antes, por volta das 14h. Muitos deles são ligados a movimentos sociais e a partidos de esquerda. Havia também venezuelanos e funcionários do Consulado apoiando o ato. O Cônsul Geral da Venezuela em São Paulo, Robert Torrealba, participou da manifestação.

[SAIBAMAIS];Esta é uma iniciativa dos movimentos sociais e dos partidos que simpatizam e são amigos da Venezuela e do processo político que aconteceu lá. Estão acontecendo uma série de fatos na Venezuela, que estão sendo muito manipulados. E qualquer manifestação de solidariedade no mundo todo ao povo venezuelano e ao processo político é sempre importante;, disse o cônsul.

Segundo ele, a onda de protestos que provocou a morte de cinco pessoas não é algo inédito no país. ;Não é a primeira vez que está acontecendo isso na Venezuela. É um processo de sabotagem permanente. Para nós, é mais um processo que pretende desestabilizar as ações de um governo legítimo, eleito pelo povo. É um processo de golpe continuado;, acrescentou o cônsul.

;Estamos denunciando a tentativa de golpe que aconteceu na Venezuela;, disse Pedro Paulo Bocca, secretário da articulação dos movimentos sociais da Aliança Bolivariana para as Américas no Brasil. ;O que está ocorrendo lá é um processo de desestabilização política em que se coloca muita gente na rua, que as vezes nem sabe o que está acontecendo, por meio de uma liderança golpista, rancorosa, que tentou tirar o Chávez [Hugo Chávez] do poder em 2002, e que agora conseguiu uma nova brecha com a morte de Chávez, e com o momento econômico complicado da Venezuela;, disse ele.

A professora venezuelana Carolina Rodriguez, que está em férias no Brasil, participou do ato em favor de Maduro. ;Vim defendê-lo porque há pessoas gritando paz e pedindo paz, mas que fazem ações violentas para sair de um governo democrático, [mas agindo] de forma antidemocrática;, disse. Para ela, o apoio do Brasil e dos outros países da América do Sul ao governo Maduro é extremamente importante para a Venezuela.

;A união de todos os povos latino-americanos deve se manter e fortalecer. A diferença é que, em 2002, quando a direita fascista tentou dar um golpe ao governo Chávez, não existia, como hoje, as mesas [de negociação] do povo latino-americano. Agora temos a Unasul [União de Nações Sul-Americanas], o Mercosul, por isso agora somos mais fortes. E não vamos deixar que se mude o que a maioria decidiu e deseja: que é continuar [o governo Maduro];, disse ela.

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Enquanto os manifestantes a favor de Maduro gritavam e cantavam palavras de apoio, a estudante Juliana Ribeiro Lima decidiu enfrentar o grupo sozinha, gritando contra o atual presidente da Venezuela. Ela disse que tem muitos amigos que vivem na Venezuela e que relatam os problemas que lá ocorrem. ;Lá não tem papel higiênico, não tem comida. Quem discorda dele, morre;, falou ela.

Poucos momentos depois, por volta das 15h, o protesto de Juliana deixou de ser solitário. Outros sete manifestantes chegaram para se posicionar na calçada oposta do Consulado, exibindo faixas, pedindo a saída de Maduro. Uma delas foi o professor de filosofia Filipe Celeti. ;Sou contra qualquer tipo de governo que inicia agressões contra pessoas não agressoras;, disse ele.

;O problema do governo Maduro é o fato de ser um governo socialista, com controle enorme sobre a economia, o que gera escassez e empobrecimento da população, além de exercer controle de informação e de expressão. É um governo com liberdades suprimidas tanto individualmente, de não poder se expressar, quanto economicamente, de não se poder comprar e vender livremente;, ressaltou Celeti.

;Todas as eleições no mundo, democráticas, válidas ou não, não justificam um regime que tolhe a liberdade do seu povo. Que regime é esse que um opositor vai preso ou que se tira um canal de TV do ar que é contra ele? Isso não é democracia. Democracia não é simplesmente vontade da maioria. Democracia é a vontade da maioria, respeitando as liberdades individuais;, acrescentou Felipe França, advogado e estudante de economia, também contrário ao governo atual venezuelano.

Mas, ao final da manifestação, os ânimos foram se contendo e os grupos foram se misturando. Não compartilhavam a mesma ideia, mas preferiram o diálogo com o seu opositor. Um exemplo foram os dois professores [ambos também ex-militares] Antônio da Silva Ortega [que ministra aulas de história e geografia] e Ernesto Tichler [professor aposentado de engenharia], que se reuniram em um canto da rua, amigavelmente, para bater papo e discutirem suas ideias divergentes sobre a Venezuela. Outra coincidência, além da profissão, é que ambos citaram a democracia para defender suas opiniões sobre a situação política venezuelana.

;Defendo a democracia. Estou aqui, ao lado do povo patriota da Venezuela, que luta contra uma ditadura que, do meu ponto de vista, se continuar, vai massacrar seu próprio povo;, disse Ortega. Já Tichler defende o governo Maduro. ;Vim aqui para mostrar meu apoio ao governo bolivariano, uma vez que defendo a democracia. Todo mundo defende a democracia. Mas quem defende a democracia apoiando um golpe para derrubar um governo legitimamente eleito, não está defendendo a democracia, mas um golpe. E quem defende um golpe é fascista;, disse ele.

Para ambos, o que aconteceu em frente ao consulado, com dois grupos distintos se reunindo para trocar ideias ao final de uma manifestação, foi um grande exercício democrático. ;É um direito democrático de todos. Aqui estamos, cada um defendendo seu lado. Às vezes há agressões por palavras, mas acredito que, se as pessoas se conhecerem melhor, isso fortalecerá nossa democracia;, falou Ortega. ;É muito bom que todos se manifestem. Sou contra apenas a se usar violência para querer derrubar um governo. Mas o debate sempre é bem-vindo;, ressaltou Tichler.

Ao final das duas manifestações, representantes dos dois grupos combinaram a realização de um debate, na Universidade de São Paulo, para discutir a questão da Venezuela. A data não foi agendada.