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Protestos, lágrimas e indignação marcam um ano da tragédia na Boate Kiss

Participantes pintaram no asfalto a silhueta de 242 corpos, representando cada uma das vítimas da tragédia



Em meio a uma nuvem tóxica, muitos morreram asfixiados. Alguns jovens que escaparam voltaram para ajudar. Vinicius Rosados, de 26 anos, estudante de Educação Física de 1,94 m de altura, chegou a retirar do local 14 pessoas, em alguns casos duas de uma vez. Mas seus pulmões não resistiram e ele morreu intoxicado. "Este local, antes de se tornar uma boate, era um depósito de bebidas. Foi reformado e tinha apenas duas entradas na frente, junto a outros dois prédios comerciais. Não havia nenhuma maneira de sair por trás ou pelos lados", explica à AFP Marcelo Dornelles, subprocurador-geral de Justiça do estado para Assuntos Institucionais.

Sem culpados

Inicialmente, a justiça ordenou a prisão do vocalista da banda, do produtor, que acendeu o sinalizador, e de dois sócios-proprietários da boate, sob a acusação de homicídio culposo. No entanto, em maio do ano passado todos conseguiram autorização para responder em liberdade. "Não há presos, todos estão soltos. Vivemos uma impunidade", diz Ferreira. Quatro bombeiros também enfrentam acusações administrativas. Eles eram encarregados de entregar a licença de funcionamento da Kiss. "Eles utilizavam um programa para fazer cálculos para permitir as autorizações. Este software simplificava os dados e não estava em conformidade com a lei. Muitas coisas não foram checadas adequadamente. Mas, em tais condições, não poderia funcionar", explicou Dornelles.

[SAIBAMAIS]Foram ouvidas mais de 200 pessoas. A defesa solicitou o testemunho dos mais de 600 sobreviventes, o que pode tornar o processo interminável. Alguns advogados de familiares também pediram indenização, mas até o momento não conseguiram nada. Ferreira explica que esta não é sua preocupação agora, mas que se faça justiça.

Traumas sem cura

Após o incidente, cerca de 116 pessoas ficaram feridas. Algumas perderam partes de seu corpo. Outras ainda têm dificuldades para respirar. E quase todas ainda carregam a angústia do que viveram. Sueli Guerra, chefe do centro de atendimento criado especialmente para as vítimas no Hospital Universitário de Santa Maria, conta que logo após o incêndio o estabelecimento havia registrado 1.588 vítimas diretas e indiretas. "A maioria com problemas respiratórios e que receberam atendimento pneumológico e reabilitação com fisioterapia e fonoaudiologia", relata à AFP. "Há muitos pacientes na ala de psiquiatria devido ao trauma. Um grupo menor de pacientes com queimaduras exige cuidados mais complexos", conta.

Algumas famílias também se sentem sobreviventes eternas. Elaine Gonçalves, que havia ficado viúva meses antes do incêndio, declarou que perdeu seus dois filhos na Kiss. Às vezes, disse ela, liga o rádio para ouvir as músicas que gostavam para, de alguma forma, não sentir sua ausência.

Com informações da France Presse