São Paulo ; Nenhum animal retirado do laboratório do Instituto Royal, em São Roque, no interior paulista, sofria maus-tratos ou tinha mutilações, declarou o coordenador do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) e membro da diretoria da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o médico Marcelo Morales.
Morales disse que os maus-tratos aos cães da raça beagle, suspeita que levou ativistas de defesa dos animais a invadirem o laboratório na madrugada da última sexta-feira, poderiam até prejudicar os experimentos. ;Se os animais sofrem durante a pesquisa, isso interfere no próprio experimento. Não é interesse ético, nem científico, que os animais sofram, muito pelo contrário. Os animais têm que estar saudáveis, sem estresse e em boas condições para que se tenham resultados confiáveis;, disse.
Segundo o médico, o instituto era acompanhado pelo Concea, conselho ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e ao Ministério da Saúde, nos testes para medicamentos coadjuvantes na cura do câncer, além de antibióticos e fitoterápicos da flora brasileira, feitos a partir de moléculas descobertas por brasileiros. ;Era um laboratório que dava suporte para a independência do Brasil em relação à novos fármacos;, informou. ;Milhões de reais foram jogados no lixo e anos de pesquisas para o benefício dos brasileiros e dos animais também foram perdidos;.
O MCTI contabiliza, no país, em torno de 400 instituições credenciadas ou em processo de credenciamento para fazer experimentos com animais. O médico ressaltou que o Brasil tem um marco regulatório com leis rígidas para o controle dessas pesquisas.
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Morales destacou que nenhum lugar do mundo proíbe testes com animais. ;Pesquisas que o Brasil está fazendo e se despontando como células tronco não seriam possíveis sem a utilização de animais. Pesquisas com terapia gênica, outras pesquisas importantes na cura do câncer, que estão sendo desenvolvidas por pesquisadores brasileiros, dependem do uso de animais;, disse.
O membro do Concea esclareceu ainda que existem poucos métodos alternativos para substituir as cobaias em testes e a obtenção dessa metodologia pode levar entre 15 e 20 anos para ser desenvolvida. Na indústria de cosméticos, porém, essas técnicas são usadas com maior eficiência. ;Um exemplo é o kit de pele artificial humana. As indústrias mais sérias do mundo não utilizam animais para testes cosméticos;, explicou.
De acordo com Morales, os cães da raça beagle são padrão no mundo inteiro para o teste de fármacos por suas características. Além do temperamento dócil e da facilidade de manuseio, ele têm maior similaridade com o condicionamento do organismo humano. O médico disse que os cachorros retirados pelos ativistas viviam em um ambiente protegido, chamado de biotério, sem contato com o meio externo. ;Não se pode tirar animais que foram criados em biotérios dessa forma repentina, porque eles podem morrer. Eles estão em risco neste momento;, disse.