Enfrentar a violência cometida contra a mulher no campo e reivindicar o fortalecimento de políticas públicas de apoio às trabalhadoras rurais estão entre os principais objetivos da Jornada das Margaridas, encontro anual de mulheres rurais que prossegue até essa quarta-feira (21/8), em Brasília. O evento faz um balanço do atendimento do governo à pauta de reivindicações das trabalhadoras rurais, entregue na última edição da Marcha das Margaridas, em 2011.
O nome do evento é uma homenagem à líder camponesa Margarida Maria Alves, primeira sindicalista brasileira a lutar pelos direitos trabalhistas no estado da Paraíba, durante o período da ditadura militar. Este ano se completam 30 anos do seu assassinato por um pistoleiro.
Amanhã, às 10h, vai ocorrer o ato nacional da Jornada das Margaridas, em que são esperadas 400 trabalhadoras rurais. Durante o ato, serão entregues quatro unidades móveis para mulheres em situação de violência: duas para o Distrito Federal e duas para Goiás. A previsão é que o governo federal disponibilize 54 unidades móveis até o final do ano.
A primeira unidade móvel foi entregue no último dia 9 em Alagoa Grande (PB), cidade de Margarida Alves. ;A unidade móvel é uma grande conquista que chega até o campo e atende às mulheres vítimas de violência. É um ônibus equipado com profissionais da área jurídica e psicológica e de orientação para as mulheres sobre seus direitos;, disse a secretária de Mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Alessandra Lunas.
Segundo ela, um dos grandes desafios da categoria é garantir a autonomia econômica das mulheres. ;Há dificuldade de acesso ao crédito e ao fomento. O Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar] Mulher caminha com dificuldade. A elaboração dos projetos e assistência técnica são grandes gargalos;, disse Alessandra.
Ontem, representantes da jornada foram recebidas pela ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, para tratar das políticas públicas do governo federal voltadas às mulheres do campo e à agricultura familiar. Na reunião, o grupo apontou a necessidade de levar qualificação profissional às mulheres do campo e de aprimorar políticas que facilitem o acesso das trabalhadoras aos programas de capacitação técnica.
;Uma decisão durante a construção do Bolsa Família foi repassar o benefício diretamente para as mulheres. Atualmente, 93% dos titulares dos cartões são mulheres responsáveis pelo sustento da família;, lembrou a ministra.
[SAIBAMAIS]
Ainda ontem, as trabalhadoras rurais reuniram-se com o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Roberto Vizentin, e reivindicaram a regularização integral das reservas extrativistas de Mata Grande e de Ciríaco, ambas no Maranhão, e a de Extremo Norte, em Tocantins. Também pediram a criação das reservas extrativistas de Enseada da Mata e de Babaçu, ambas no Maranhão.
;Nossa pauta é a regularização fundiária e a garantia do acesso à terra, com a criação das reservas extrativistas e das unidades de conservação;, disse a vice-presidenta do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, Edel Moraes, cuja família mora em um assentamento agroextrativista no município de Curralinho, na Ilha de Marajó, no Pará. Ela também destacou que ;a mulher na floresta tem muita dificuldade de acesso às políticas públicas, já que a educação infantil é praticamente inexistente e os atendimentos à saúde são deficientes;.
Mercedes Demore, de 64 anos, que participa da jornada, conta que os três filhos e cinco netos foram criados na agricultura familiar. Moradora de Indianópolis, no Paraná, ela diz que ainda há discriminação contra a mulher agricultora em programas de acesso a crédito. ;Há uma grande dificuldade para conseguirmos a declaração de aptidão do Pronaf, pois geralmente é o homem que recebe;, queixou-se.