Rio de Janeiro - O ato promovido neste domingo (11/8), na Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro, pela Anistia Internacional, Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa (Alerj) e pelo grupo Fazer o Certo, em solidariedade à família do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, teve a presença de parentes de vítimas da violência policial no estado. Um deles, a economista Simone Acioli, irmã da juíza Patricia Acioli, morta por policiais militares porque pediu a prisão de policiais acusados de envolvimento com traficantes, em Niterói.
;Hoje está completando dois anos que a minha irmã morreu, e a gente estar aqui para dar solidariedade e apoiar [a família de Amarildo]. Está todo mundo esperando o Amarildo aparecer. A gente está aqui para mostrar que apoia o movimento;, disse Simone. O ajudante de pedreiro desapareceu no dia 14 de julho, quando foi levado por policiais para a Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha, onde mora a família.
[SAIBAMAIS]O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, deputado Marcelo Freixo (PSOL), destacou que se trata de um caso dramático e sério. Defendeu que o Dia dos Pais deve ser aproveitado para que se relembre o caso de Amarildo dentro de um ;histórico de truculência muito forte contra as comunidades mais pobres, de tantos desaparecidos sem resposta, esquecidos e invisíveis;. Freixo acredita que um ato como o promovido neste domingo reforça a necessidade de as autoridades públicas prestarem contas do que ocorreu com o ajudante de pedreiro.
Freixo citou o artigo escrito pelo compositor e cantor Caetano Veloso, publicado no jornal O Globo de hoje, e a manifestação do ator Wagner Moura, no Festival de Cinema de Gramado (RS), cobrando das autoridades uma solução para o caso. ;Eu acho que esses formadores de opinião, a sociedade civil organizada, todo mundo tem que trabalhar à luz do que sociedade quer construir para a gente;. Ele ressaltou que não se trata mais de uma questão de justiça pessoal da família do ajudante de pedreiro da Rocinha. ;O que está em jogo é a sociedade que a gente quer;. Nesse sentido, declarou que não se deve deixar o episódio cair no esquecimento. Aludiu, ainda, à tentativa de criminalização da vítima para banalizar a denúncia, que qualificou de ato covarde que não deve ser admitido.
Para o diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil, Átila Roque, o caso Amarildo sintetiza décadas de experiência em que os territórios das favelas foram tratados como territórios de exceção. ;Exceção de direitos, de tratamentos de cidadania equivalentes ao resto da cidade;. Considerou que a mobilização nacional e internacional, que já se tem hoje para exigir uma resposta sobre o que ocorreu com o Amarildo, exerce uma pressão que não será ignorada.
Na quinta-feira passada (8), Roque participou de encontro com os ministros Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, e José Eduardo Cardozo, da Justiça, juntos com o secretário-geral da Anistia, Salil Shetty, que estava em missão no Brasil, durante o qual se falou da necessidade de o governo federal estar atento e, ;se necessário, assumir a responsabilidades sobre o que aconteceu com o Amarildo;.
Roque avaliou que esse é um caso em que ;não é possível mais que os diferentes níveis de governo possam continuar adiando e empurrando um para o outro a responsabilidade sobre o esclarecimento;. Acrescentou que não é possível mais ;que amarildos se repitam e que o Estado brasileiro se mantenha quase que indiferente em relação a isso;. Ele definiu o ato e a mobilização da sociedade civil sobre o caso como de ;grande importância histórica na luta pela democracia e pela justiça e igualdade no Brasil.
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O primo de Amarildo, Willians Roberts, não tem dúvida que ele foi morto pela polícia. ;Ele foi uma vítima. Ele foi morto por esse grupo militar, mesmo;, disse. Ele espera que a Justiça ;mostre trabalho desta vez;, para solucionar o caso, afastando os maus policiais da comunidade, embora reconheça que a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) dá segurança aos moradores que, ;infelizmente;, ainda têm que conviver com o tráfico de drogas. Willians presta serviços à prefeitura. ;Eu trabalho como guardião do Rio;.
A atriz Thayla Ayala, do grupo Fazer o Certo, ressaltou que o desaparecimento de Amarildo é mais um caso. ;Tem 5,6 mil pessoas desaparecidas no Rio de Janeiro, somente este ano. Muitos casos de Amarildo;. Ela considerou importante atos como o de hoje para mostrar que a sociedade está atenta. ;Na verdade, a gente veio aqui juntar forças e mostrar que o povo não está tão acomodado nem tão cego assim com a Justiça;. O grupo se dedica a estudos de política e decidiu se juntar à Anistia Internacional no ato deste domingo (11), em solidariedade à família do ajudante de pedreiro. Eles farão uma intervenção artística na próxima terça-feira (13), em frente à Alerj, para ;aproveitar a nossa força como artistas e fazer o certo;.
A produtora cinematográfica Paula Lavigne também compareceu ao ato, em apoio ao movimento. ;É o mínimo que a gente pode fazer, porque Amarildo não é o primeiro, nem o único. Mas estamos torcendo para que seja último;. Ela pretende chamar a atenção para o caso, aproveitando a visibilidade da classe artística. Destacou que a Rocinha é um lugar emblemático da cidade ;e a gente torce pela UPP e pelo Rio;.