Jornal Correio Braziliense

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Brasil pode prevenir crise energética com reservatórios reguláveis

Presidente do Comitê Brasileiro de Barragens diz que esse tipo de reservatório tem capacidade para estocagem de água nos períodos chuvosos visando a sua utilização no período de seca

Rio de Janeiro - O Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) quer estimular no país um debate técnico sobre a importância do uso múltiplo dos reservatórios das usinas hidrelétricas, disse o presidente do comitê, Erton Carvalho.

Segundo ele, o CBDB defende o uso do sistema de regularização de reservatórios. Esse tipo de reservatório tem capacidade para estocagem de água nos períodos chuvosos visando a sua utilização no período de seca. ;Os estudos devem contemplar a formação de reservatórios que permitam estocar água, regularizar os cursos d;água e reter água para uso posterior nos períodos de estiagem;, manifestou.

Ele observou que os 42 reservatórios existentes na bacia dos rios Paraná e Rio Grande, até Itaipu, com 820 mil quilômetros quadrados, são reservatórios de vazão. ;Essa cascata tem sido utilizada para gerar energia, para controle de cheias;, disse. Os reservatórios das usinas brasileiras têm sido usados também para projetos de irrigação. Um exemplo é a bacia do rio São Francisco, disse Carvalho, que permitiu o desenvolvimento da produção de frutas na região. Lembrou também que nas cabeceiras do rio São Francisco existe a manutenção de uma vazão mínima para melhorar as condições de navegação.

;No momento em que [há] água armazenada, [há] energia armazenada. Água que pode atender a outras finalidades, como o abastecimento de água à população;, observou. Depois de 2007, com o surgimento de exigências ambientais mais rigorosas, não estão sendo feitas mais no Brasil usinas hidrelétricas com reservatórios de regularização.

;As usinas que fazem barragens para gerar energia estão trabalhando no que nós chamamos de fio d;água. A barragem não acumula água. Ela [usina] gera à medida que o rio contribui. Na cheia, gera mais; na seca, gera muito pouco porque não há água acumulada, disse.

O comitê considera que essa política, imposta pelas restrições ambientais, tem de ser reavaliada. O segundo problema é a poluição. Disse que o impacto ambiental é muito mais severo nas térmicas que utilizam combustíveis fósseis, porque elas emitem gases de efeito estufa em quantidades consideráveis. ;A sociedade tem que discutir isso, com profundidade;, asseverou. Disse que a energia eólica (gerada pelos ventos) é importante para a matriz energética brasileira, mas não entra na base do sistema porque sua produção não é constante no tempo. ;Ela entra para complementar essa energia de base;.

O setor elétrico brasileiro possui atualmente um dos maiores sistemas interligados do mundo, com 12 mil quilômetros de linhas de alta tensão, acima de 230 KV, que interliga o sistema e permite o uso otimizado dos reservatórios de todo o país. Carvalho reiterou que isso só pode ser feito com o uso dos reservatórios que ;estocam água, isto é, estocam energia;, permitindo que ela possa ser transportada por esse sistema.