Os nomes de cerca de 300 militares que participaram das expedições de repressão à Guerrilha do Araguaia foram encaminhados hoje (30) à Comissão Nacional da Verdade (CNV) pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. A ideia é que a CNV ouça os militares da ativa e da reserva que participaram das ações. Os nomes também foram encaminhados à Justiça Federal que, em 2003, responsabilizou o Estado brasileiro pela busca e localização dos restos mortais dos guerrilheiros mortos.
"Isto é um trabalho realizado pela Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos que, em 2001, 2002, chegou a essa relação de nomes e, na época, chegou a ser oficiado ao Ministério da Defesa, solicitando especificar onde residiriam essas pessoas. Pelo menos com relação às pessoas que estariam na ativa ou aposentadas, o Exército teria a obrigação de saber onde se encontravam", disse à Agência Brasil o procurador da República Ivan Cláudio Marx, que acompanha o processo movido, desde 1982, por parentes dos guerrilheiros mortos e desaparecidos. Marx declarou que, na época, o ofício não teve resposta, mas que agora, pela situação atual da investigação, "a gente achou interessante solicitar que o Judiciário ouvisse essas pessoas. Também estamos indicando [os nomes] à Comissão Nacional da Verdade como de possível interesse para oitiva", completou.
De acordo com presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Marco Antônio Rodrigues Barbosa os nomes foram apurados durante os trabalhos de investigação da comissão e traz a expectativa de os depoimentos dos militares trazerem mais informações sobre o que aconteceu e contribuir nas buscas dos restos mortais dos guerrilheiros, e que tanto a CNV como o Judiciário "poderá intimá-los a depor e que isto possa trazer novas informações que ajudem a colocar luz na luta dos parentes que até hoje não tiveram a plenitude da resposta do Estado brasileiro", disse.
A Guerrilha do Araguaia foi um movimento político no começo da década de 1970, que surgiu para enfrentar a ditadura militar. Ela ocorreu na divisa dos estados do Pará, Maranhão e Tocantins (à época Goiás) e foi combatida pelas Forças Armadas a partir de 1972, em quatro operações. Até hoje, dezenas de militantes que participaram da guerrilha estão desaparecidos.
Em 2009, a juíza da 1; Vara Federal do Distrito Federal, Solange Salgado, determinou que o governo federal reiniciasse as buscas na região. Em 2012, o governo promoveu, por meio do Grupo de Trabalho Araguaia, diversas expedições para localizar os restos mortais dos desaparecidos durante a guerrilha. Foram exumados oito restos mortais, localizados nos estados do Pará e Tocantins. Os despojos estão em Brasília para análise pericial.
Ao todo, 25 restos mortais foram encontrados desde a década de 1990 na região. Eles foram levados para capital federal e encaminhados à Universidade de Brasília (UnB) para exames antropométricos ; nos quais são feitas diversas medidas corporais para efeito de comparação com dados anteriores à morte ; e, posteriormente, análises periciais. Dois restos mortais foram identificados: os de Maria Lúcia Petit e de Bergson Gurjão. Parentes dos desaparecidos aguardam a identificação das outras ossadas. "O fato até hoje é que não houve essa descoberta plena e essa resposta a que fazem jus os parentes. Existe a perspectiva de outras expedições que podem ser corroboradas com essas informações e necessárias porque existe uma sentença judicial e como tal ela tem que ser cumprida", disse Barbosa.