Jornal Correio Braziliense

Brasil

Parentes de trabalhadores mortos em acidente no Amapá esperam punição

Professora Roseane dos Santos, viúva de Pedro Coelho Ribeiro, um dos quatro trabalhadores declarados mortos (dois continuam desaparecidos), critica a Anglo American

Parentes de trabalhadores mortos , no porto que a mineradora multinacional Anglo American opera em área próxima a Macapá (AP) divergem quanto ao tratamento dispensado pela empresa às famílias das vítimas.

A professora Roseane dos Santos, viúva de Pedro Coelho Ribeiro, um dos quatro trabalhadores declarados mortos (dois continuam desaparecidos), não só critica a Anglo American, como sugere que órgãos públicos responsáveis por fiscalizar o empreendimento podem ter sido omissos.

;Este porto tem 50 anos e já houve acidentes como este antes. Sabiam que o terreno não ia suportar o peso do minério armazenado e, ainda assim, não fizeram nada. Depois da tragédia, chegaram a dizer que uma grande onda tinha atingido o píer? Como uma onda dessas ia acontecer em um braço de rio? E sem atingir outros locais próximos?;, questiona Roseane.

Ela endossa a hipótese que o volume de minério armazenado pela empresa excedia a capacidade das instalações portuárias, o que teria provocado o deslizamento de terra e minério que arrastou caminhões, guindastes, o escritório da empresa e seis funcionários para o fundo do Rio Amazonas. Dois trabalhadores continuam desaparecidos. Para o delegado José Rodrigues Neto, responsável pelo inquérito, ainda é cedo para falar em responsabilização penal e se o volume de material armazenado foi determinante para o acidente.



Entre os quatro trabalhadores mortos, Ribeiro foi o último a ser localizado. Sua identidade só foi confirmada pela Polícia Técnico-Científica do Amapá (Politec) no final de junho. Como a questão da indenização ainda está sendo resolvida, Roseane disse que está dependendo da ;boa vontade; da empresa até para fazer as compras do mês.

;Representantes da empresa vieram à minha casa no fim do mês passado e pediram um prazo de dois meses para nos ajudar, mas a situação é muito complicada. Eu trabalho, mas meu marido era o provedor da casa e tenho duas filhas pequenas;, comentou a professora, que contratou um advogado para tratar da questão indenizatória. ;Nenhum dinheiro vai reparar a morte do meu marido, mas temos duas filhas crianças e, além de querer a condenação dos responsáveis, preciso pensar no futuro delas;.

Já o estudante Diego Marques de Souza, que perdeu o pai Manoel Moraes de Azevedo, 47 anos, disse que, até o momento, os contatos entre o advogado da família e os representantes da empresa vêm evoluindo bem. Azevedo foi uma das primeiras vítimas a ser resgatada sem vida e reconhecida, quase três meses antes do marido de Roseane ser identificado.

;O auxílio-funeral [a que todos os empregados da empresa têm direito] foi logo liberado. Nosso advogado agora está discutindo o valor da indenização e não comentou problema [algum]. Até agora, parece haver boa vontade por parte da empresa. Espero que continue assim, que não haja mais problemas, porque a situação em si já é bastante triste;, comentou o estudante de 26 anos.

Assim como Roseane, Diego diz esperar que alguém seja responsabilizado. ;Estamos esperando que as perícias apontem o que houve e então os responsáveis vão aparecer. Disseram que o acidente podia ter sido causado por um fenômeno natural, mas o que houve foi um desastre [previamente] anunciado;.

Além de Ribeiro e Azevedo, morreram no acidente Eglison Nazário dos Santos e Josmar Oliveira Abreu. Os dois trabalhadores que continuam desaparecidos são Benedito Cláudio Lopes dos Santos e Maicon Carvalho. Procurada ontem (25), a Anglo American ainda não se manifestou sobre o assunto.