Rio de Janeiro - Jovens que protestaram por mais investimento em saúde e educação esperam que o papa Francisco, com sua forte mensagem a favor dos pobres, apoie suas demandas durante sua visita ao Rio, e descartam aproveitar o evento para retomar os protestos. "As manifestações têm um caráter social e protestar por justiça, contra a corrupção e os abusos é uma virtude do Evangelho", Tanat Resende, de 22 anos, estudante de direito e católico, que participou dos históricos protestos que, em junho, reuniram mais de um milhão de jovens em várias cidades do Brasil.
"O papa Francisco é um homem muito sensível ao contexto social e eu não me surpreenderia se houvesse algum tipo de referência" aos protestos, expressou à AFP Benjamin Paz Vermal, um dos porta-vozes da JMJ. O Papa tomou iniciativas contra a corrupção na Santa Sé e planeja uma reforma no banco do Vaticano, um dos mais secretos do mundo.
A postura anticorrupção do papa "vai nos ajudar a lutar mais contra a corrupção, a pobreza, a miséria", comentou Nathalia Pinto, de 21 anos, que se declara católica e que também participou dos protestos de junho. "O papa chega em boa hora ao Brasil, num momento em que a população sai às ruas pedindo justiça, igualdade, saúde, educação", aspectos sociais que são o lema de seu papado, explicou à AFP Iván Esperanza Rocha, historiador e especialista em religiões da Universidade estatal de São Paulo.
[SAIBAMAIS]Paz em meio às revoltas
Até o momento, as únicas mobilizações convocadas nas redes sociais são por parte de grupos de defesa dos direitos dos homossexuais e uma "marcha das vadias" para protestar contra a violência de gênero. A JMJ dará "ainda mais força ao sonho brasileiro de continuar avançando em conquistas sociais" e "na melhora de nossa democracia", disse a presidente Dilma Rousseff, dirigindo-se aos jovens pela televisão.
"A vinda do papa trará mais esperança, mais paz, neste momento em que estamos um pouco perturbados", considerou Pinto. "A visita do Papa é muito mais delicada, já que o Brasil é um país muito católico. E as pessoas não consideram que isto seja o mesmo que a Copa do Mundo ou as Olimpíadas", opinou à AFP Mario Campagnani (29), membro do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas, um dos principais movimentos que convocou os protestos de junho.
Cerca de 64,6% da população se declara católica no Brasil, segundo o censo de 2010. "As críticas são mais contra os gastos públicos na Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016, eu não ouvi muitas críticas contra a visita do Papa", acrescentou. O arcebispo emérito de São Paulo, Claudio Hummes, disse ao jornal O Estado de São Paulo que o Papa não teme as manifestações porque "as reivindicações não estão vinculadas" a sua visita. De fato, os bispos católicos do Brasil expressaram seu apoio às demandas. A JMJ - a segunda a ser realizada na América Latina - espera 1,5 milhão de fiéis e custará ao Brasil entre 145 e 160 milhões de dólares, 53 milhões dos quais serão pagos pelos cofres públicos, segundo a imprensa.