São Paulo ; Além de promover a inclusão social, a gratuidade do transporte público traz impactos positivos à economia, segundo ex-secretario municipal de transportes de São Paulo, Lúcio Gregori. ;É uma bruta inclusão social. Mais do que isso, tem efeitos positivos na economia, porque as pessoas vão consumir mais. As pessoas chegam em mais lugares para consumir coisas: no teatro, no cinema, na festa, no bar, na escola, em todos os lugares tem mais gente chegando;, disse ao participar de uma aula pública em frente à prefeitura paulistana organizada pelo Movimento Passe Livre (MPL).
A calçada, que ficou lotada na noite desta quinta-feira (27/6) de jovens sentados para escutar a palestra, ainda tinha cacos de vidro remanescentes do último protesto do movimento, no dia 18, pela redução das tarifas de ônibus, trens e metrôs. Na ocasião, as vidraças da prefeitura e duas agências bancárias na Praça do Patriarca foram depredadas. A revogação do aumento que tinha elevado as tarifas do transporte público de R$ 3 para R$ 3,20 na capital foi anunciada no dia seguinte pelo prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin. Também participou da aula o professor aposentado do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo, Paulo Arantes.
Quando participou da administração da prefeita Luiza Erundina na capital paulista, Gregori elaborou o Projeto Tarifa Zero, que pretendia subsidiar integralmente as passagens de ônibus com o aumento de impostos progressivos, especialmente o de Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). O ex-secretário ainda defende o mesmo modelo para implantação do sistema em grandes cidades. ;É óbvio que tem que arranjar dinheiro novo, alavancando o IPTU de grandes propriedades e de imóveis de luxo;, disse ao explicar que a proposta está ligada a uma reforma que torne a carga tributária mais justa.
;A sociedade brasileira é rica o suficiente para fazer uma política tributária em que os mais ricos contribuam para todos viverem em uma cidade que muda inteiramente com a gratuidade dos transportes;, acrescenta ao lembrar da desigualdade do sistema atual. ;O Brasil tem uma carga tributária inversa do que tem que ser: quem ganha até dois salários mínimos paga mais imposto do que quem ganha mais do que 20. Quem ganha até dois salários paga 50%, quem ganha mais de 20 salários paga 26%, alguma coisa está errada;.
Gregori descarta ainda a vinculação da tarifa zero com a estatização do sistema de transportes. ;Por acaso a coleta de lixo é estatal? Não tem nada a ver uma coisa com a outra;, compara. ;Tem que pagar o custo operacional de uma frota contratada do setor privado, com planilha discutida publicamente e claramente. E não se cobra nada do passageiro;.