A confusão que se instalou em 12 estados na última semana, devido aos boatos de que o Bolsa Família seria extinto, colocou o programa sob holofotes. Até para os críticos ficou evidente a importância conferida pela população à política governamental de transferência de renda, que hoje atende 13 milhões de famílias pobres. Se, para combater a miséria, os repasses mensais que variam de R$ 32 a R$ 306 têm efeitos imediatos inequívocos, o mesmo não se pode dizer sobre uma mazela secular no Brasil: a desigualdade de renda e, portanto, de oportunidades. Estudo da Universidade de Brasília (UnB) mostra que o Bolsa Família contribui em apenas 1% para reduzir a concentração de riqueza no país ; uma das mais elevadas do mundo.
Um mecanismo estatístico criado pelos autores do estudo ; os pesquisadores Marcelo Medeiros e Pedro Souza, que atuam no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), além da UnB ; identifica os fatores que ajudam a concentrar e a distribuir renda no país e o peso de cada um na formação do quadro brasileiro atual de desigualdades.
Dos oito elementos analisados, a assistência social, formada pelo Bolsa Família e pelo Benefício de Prestação Continuada (cujo público são idosos e pessoas com deficiência carentes), é praticamente irrelevante para desconcentrar a riqueza. Nesse quesito, o impacto maior decorre do Imposto de Renda, que incide sobre os mais endinheirados, contribuindo em 10% para diminuir a desigualdade. Porém, a renda do trabalho no setor privado eleva a disparidade.