Jornal Correio Braziliense

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Brasil terá centros de referência para tratar hepatite C com nova terapia

Os novos centros funcionarão em hospitais universitários e em unidades do SUS

Rio de Janeiro - Até o fim do primeiro semestre estarão funcionando em todo o país centros de referência para tratar a hepatite C com três medicamentos, conforme determinação do Ministério da Saúde. Segundo a médica Cristiane Vilella, responsável pelo atendimento a pacientes com a doença no Hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão, na zona norte, inicialmente esses centros serão responsáveis pelo tratamento de pacientes com fibrose avançada, ou seja, aqueles que têm a doença em estágio mais grave.

"Antes, tínhamos o tratamento com terapia dupla, que ainda continua. Muitos pacientes não precisam do tratamento novo". A médica explicou que os pacientes que têm os tipos 2 e 3 do vírus C não pode usar, já que os novos remédios se destinam exclusivamente aos portadores do vírus tipo 1. "Os outros continuam a ser tratados com a terapia dupla".

Os novos centros funcionarão em hospitais universitários e em unidades do SUS. Segundo a médica, é possível que a curto e médio prazos outros centros sejam incluídos nesta lista, porque há muitos pacientes aguardando tratamento. "Inicialmente, como sabemos que o tratamento está associado a muitos efeitos colaterais e é novo, pacientes como, por exemplo, os [que têm] cirrose hepática que possam descompensar, precisam ser atendidos em hospitais de referência que tenham médicos capacitados", disse.

Os dez centros no estado do Rio de Janeiro vão funcionar em hospitais universitários, na capital e em Niterói, e nos hospitais dos Servidores, da Lagoa, de Bonsucesso e na Santa Casa de Misericórdia. Segundo a médica, estes locais são grandes centros que já tratam os pacientes com hepatite C há mais de dez, 20 anos.

Os pacientes de São Paulo poderão tratar a doença em 24 centros de referência. Para o infectologista Paulo Abrão, responsável pelo Ambulatório de Hepatites Virais e Infectologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Brasil tem uma rede de tratamento de hepatite C que precisa ser melhorada nos moldes do que aconteceu com o tratamento da aids, que no início era complicado e depois teve a rede estruturada progressivamente.



"Acho que o que está acontecendo agora é uma ampliação e uma estruturação melhor desta rede e isso tem que continuar, por que o número de pacientes é muito grande e precisamos de mais centros do que esses que vão começar. Esta é uma oportunidade de ampliar e organizar melhor a rede com a nova medicação, para acolher os pacientes que precisam, da mesma forma como foi feito com o [tratamento do] HIV nos últimos 20 anos".

Os centros terão uma equipe multidisciplinar com médicos, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas e psicólogos, seguindo orientação do Ministério da Saúde. Como serão instalados em locais com pacientes em tratamento há até 20 anos, cada hospital já tem um número de pessoas sendo atendidas e que estão sendo selecionadas.

"Em princípio, esses pacientes serão aqueles que iniciarão o tratamento", disse Cristiane Vilella. Ela explicou que à medida que os médicos identifiquem outros pacientes que necessitem do tratamento, podem entrar em contato com um dos centros para dar referência desse paciente.

Segundo a médica, a cura da hepatite C sempre foi possível. Ela explicou que algumas pessoas até conseguiram se curar sem qualquer tratamento porque a doença não progrediu, mas é um número reduzido. "Isso é a minoria. Em cem pessoas que adquiriram a hepatite C, 20 ficam curadas sem qualquer tratamento. As outras, nem todas precisam tratar, porque a doença não progride. Na verdade quem precisa tratar são pessoas com a doença mais avançada. A cura nesse grupo de pacientes ainda não é total".

A médica disse que as novas drogas permitirão um aumento significativo da possibilidade de cura. Ela esclareceu que, o grande benefício dessas novas drogas ainda não é encurtar o tratamento. "O grande benefício é aumentar a chance de cura". Segundo Cristiane, alguns medicamentos que começaram a ser usados no exterior e ainda não chegaram ao Brasil começam a ser autorizados para tratamentos que permitem uma redução importante no tempo de tratamento.