De acordo com Maria Rita Kehl, os índios xavantes narram, no relatório, entre outros fatos, as expulsões que sofreram; as epidemias que, nos anos 1950 e 1960, dizimaram mais da metade da etnia; e a ocupação de suas terras por um fazendeiro que abriu uma empresa com a conivência do governo, quando os índios foram retirados do lugar.
"A maioria dos xavantes morreu por epidemias antes de, já nos anos 1990, voltarem para uma reserva muito menor que o território que tinham anteriormente", disse Maria Rita Kehl ao fim do encontro. O relatório foi produzido pela Associação B;;U (Urucum) e pela ONG Operação Amazônia Nativa (Opan).
;A importância do relatório é para que nossa história seja reconhecida nacionalmente. Nossos antepassados sofreram muito quando foram transferidos de nossa terra tradicional e [no local] foi instalada a fazenda [Suiá Missú];, comentou Cosme Paridzané, filho do cacique Damião Paridzané, lembrando que, a partir daí, o grupo xavante passou a se transferir de uma reserva a outra.
Segundo o Censo 2010, cerca de 1,8 mil índios xavantes viviam na terra indígena de 165 mil hectares (1 hectare corresponde a 10 mil metros quadrados, equivalente a um campo de futebol oficial). A retirada dos não índios de Marãiwatsédé foi concluída em janeiro. Há duas semanas, uma comitiva do governo federal, entre eles o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, participou de cerimônia para oficializar a concessão de uso da terra.
Quanto às denúncias, Maria Rita comentou apenas que a Comissão Nacional da Verdade não tem poder para interferir diretamente em nenhum conflito social no país, mas que as queixas poderão ser tratadas conjuntamente com as recomendações que vão ser apresentadas ao fim dos trabalhos.
;A comissão vai encaminhar uma série de recomendações que, esperamos, sensibilizem a sociedade, inclusive o Senado e a Câmara dos Deputados. Podemos, por exemplo, sugerir que a presidenta Dilma continue tendo o poder de homologar terras indígenas; que este poder não seja tirado dela, porque aí, com um Congresso Nacional com uma grande maioria de ruralistas, os indígenas estariam ainda mais ameaçados. Também podemos recomendar a retomada da dimensão de terra necessária para a preservação dessa cultura;.