Jornal Correio Braziliense

Brasil

RJ ainda tem índice epidêmico de homicídios, diz secretário de segurança

Em dezembro, foram registrados 24 homicídios para cada 100 mil habitantes

Rio de Janeiro ; O estado do Rio de Janeiro ainda registra um índice epidêmico de homicídios, apesar do número de casos ter diminuído nos últimos anos. A avaliação é do secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame. De acordo com ele, em janeiro de 2007, quando foi nomeado para o cargo, havia 41 homicídios por 100 mil habitantes e, em dezembro deste ano, o número caiu para 24 homicídios por 100 mil habitantes. "Ainda é um índice epidêmico, mas mostra nitidamente que temos um plano e onde queremos chegar", disse.

O secretário participou nesta quinta-feira (18/4), em Washington, nos Estados Unidos, do painel A Insegurança Cidadã na América Latina: Uma Ameaça ao Desenvolvimento, organizado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pelo Banco Mundial (Bird). O encontro ocorreu na sede do Bird e os participantes discutiram as experiências contra a violência adotadas por países da região.

Para Beltrame, é preciso inverter a lógica de como mapear as áreas conflituosas. O secretário admitiu que no estado há lugares em que foram instalados territórios fora do contexto social e das políticas que o Estado tem para as pessoas. "Ali se estabeleceram muros de violência. Naqueles lugares se estabeleceu a figura de um déspota, uma figura totalmente autoritária;, disse. ;Isso durante décadas no Rio de Janeiro, dentro das favelas, era a realidade. Isso impactou muito a imagem do Brasil e em especial a do Rio de Janeiro", completou.

A atuação dos três níveis de governo (federal, estadual e municipal), segundo o secretário, tem permitido a volta do território aos verdadeiros donos, que são os moradores. A partir da ação da polícia, explicou Beltrame, foram implantados os demais projetos dos governos federal, estadual e municipal com políticas públicas para atender às pessoas que estão marginalizadas há 30 ou 40 anos.

"Foi revertendo o discurso cínico que não se pode colocar uma escola em determinada área, colocar uma professora, porque o crime não deixava. O que estamos fazendo de uma maneira muito clara, transparente e objetiva, sobretudo, mensurável para as pessoas ter a percepção, é a polícia entrar, permanecer e criar uma ambiência para que as demandas sociais aconteçam", disse.




Na avaliação de Beltrame, quanto mais demandas sociais os governos derem à sociedade menor será a necessidade de ações repressoras por meio da polícia. "Isso são resultados que serão colhidos em médio e longo prazos, porque há que se inverter a cultura das pessoas que estavam marginalizadas do processo de integração social. Para essas pessoas, o mundo terminava no muro das favelas. Não existia nada além disso. A polícia, a vida inteira, entrou nestes lugares, trocou muitos tiros, morreram inocentes e isso afastou a sociedade da polícia. Essa percepção só pode mudar com políticas que valorizem a vida" analisou.

Também participaram do encontro no Bird o presidente do BID, Luis Alberto Moreno, o ministro da Fazenda da Costa Rica, Edgar Ayales, o ex-chefe de Polícia da Colômbia Oscar Naranjo, a prefeita de Aguascalientes (México), Lorena Martínez, e o empresário guatematelco Salvador Paiz.

De acordo com o Bird, nos anos recentes mais de 70 milhões de latino-americanos saíram do nível de pobreza e passaram a fazer parte da crescente classe média, reduzindo pela primeira vez a desigualdade social. Pelos cálculos do governo brasileiro, na última década, 37 milhões de pessoas ingressaram na classe média.

O Bird, no entanto, alerta que, apesar disso, uma onda de crimes e violência ameaça prejudicar os avanços alcançados impondo um ônus econômico, social e institucional aos países e aos cidadãos, em especial, os mais vulneráveis.

Na avaliação do banco, os resultados nos locais que obtiveram maior êxito, indicam que garantir a segurança não é somente um trabalho policial, mas precisa ter o complemento de ações preventivas e educacionais, com a participação das comunidades.