Rio de Janeiro - Os eventos que o Rio de Janeiro receberá - e que começam com a Copa das Confederações em junho e a visita do Papa em julho, passando pela Copa do Mundo de 2014 e culminando com os Jogos Olímpicos de 2016 - fazem o prefeito Eduardo Paes viver "uma boa maratona de pesadelos de quatro anos", ao final da qual espera deixar uma nova cidade de legado para sua população. A virtude destes grandes eventos é dar "ao Rio e ao Brasil a cultura de estabelecer prazos para que as coisas sejam feitas e entregues a tempo", declarou o prefeito de 43 anos, em uma entrevista concedida a jornalistas da AFP.
AFP: Estes eventos não representam um desafio muito pesado para uma única cidade, para um prefeito sozinho?
PAES: "É ao mesmo tempo um sonho e um pesadelo. Mas é um bom pesadelo. O Rio vive hoje um doce problema. É como um sonho de uma maratona de quatro anos em que você chega suado no final. É evidente que é uma responsabilidade enorme, mas acredito que estes eventos são complementares. Do ponto de vista logístico, os Jogos Olímpicos são o maior desafio, e é bom que eles venham por último. Ninguém está dizendo que o Rio vai virar um paraíso e que todos os problemas serão resolvidos. Mas a cidade passa por um processo de transformação muito intenso".
AFP: Quais são os principais obstáculos?
PAES: "Ainda faltam muitas coisas, mas tudo já está nos trilhos, nos prazos, o que é o mais importante. A implantação de três BRT (sistema de veículos articulados que trafegam em vias específicas, nr), que pressupõem desapropriações em áreas totalmente urbanizadas, a modernização da zona portuária, a construção de um Parque Olímpico: são todos projetos monstruosos, de enorme complexidade, a um custo muito elevado. Se não foi simples para Londres, que tem muito mais infraestrutura do que a gente, imagine para o Rio..."
AFP: Qual é o seu exemplo de cidade olímpica?
PAES: "Eu diria Barcelona. Diria que a gente vai fazer mais do que Barcelona. Os Jogos de Barcelona transformaram completamente a cidade. Aqui vamos mexer também com a qualidade de vida do carioca. Hoje menos de 20% dos cariocas têm acesso a transportes de alta capacidade. A maioria da população passa parte de sua vida engarrafada em ônibus. Daqui a quatro anos vamos ter 60% dos cariocas utilizando transportes de alta capacidade". (trem, metrô, BRT, nr). "A vida de várias Marias e Josés vai mudar porque eles vão levar menos tempo nos transportes".
AFP: Alguns estão preocupados com a capacidade hoteleira, com o aeroporto ultrapassado do Rio...
PAES: "Temos um problema de oferta, mas estamos trabalhando nisso. Vamos chegar a 16.000 quartos a mais, quase o dobro da capacidade hoteleira. Também vamos utilizar os motéis. Isso é novidade. Para um casal de turistas, pode ser uma boa ocasião para novas experiências..." (risos). Quanto aos aeroportos, finalmente o governo resolveu privatizar. Mas, de novo, não me preocupo com o evento. Para os 15 ou 30 dias de eventos, vai funcionar. O problema é para você que chegou ontem de Paris nesta porcaria de aeroporto. Minha preocupação é com o legado.
AFP: Em matéria de segurança, quais os conselhos que daria a um estrangeiro?
PAES: "Os conselhos são parecidos com os que recebo quando vou a Paris, guardadas as proporções, porque a taxa de criminalidade é mais baixa. Eu diria que podem passear pelas praias de Copacabana, Ipanema, Leblon, nas favelas da Zona Sul e em algumas na Zona Norte, com a maior tranquilidade. Mas cuidado em subúrbios onde você pode ser assaltado. Eu não poderia dizer isso há cinco anos (antes do início do processo de pacificação do Rio, nr)".
AFP: Muitos dizem que o mítico estádio do Maracanã está sendo tão modificado que perdeu sua alma...
PAES: Eu também adoro a nostalgia. Tenho nostalgia do Rio dos anos 50, do Copabana Palace daquela época, Rio balneário e tal. Eu frequentei o Maracanã a vida inteira, mas a sociedade evolui. Ele não apresentava as condições adequadas para um jogo de futebol com qualidade, para garantir o conforto do expectador. Se preservou a característica principal, a arquitetura externa. Agora, ninguém vai dizer que sentar em uma arquibancada desconfortável, de cimento duro, é a melhor coisa do mundo".
AFP: E se o católico e apaixonado por futebol que você é precisasse escolher entre encontrar o Papa ou ver o Neymar levantar a taça da Copa do Mundo?
PAES: "Não me deixe mal com o Papa. Mas, bom, o Brasil tem que ganhar essa Copa de qualquer jeito; e depois, vamos ter os dois, o Papa e o Neymar levantando a taça. Só espero que os franceses não estraguem esta festa".