Vitrine do governo federal no acesso de estudantes carentes ao ensino superior, o Programa Universidade para Todos (ProUni), cujas inscrições terminam amanhã, está oferecendo vagas em cursos reprovados pelo Ministério da Educação (MEC). Levantamento do Correio mostra que 40% das 2.566 graduações com notas insatisfatórias nas últimas avaliações da pasta integram a relação de cursos disponíveis aos alunos. Eles recebem bolsas integrais ou parciais. Em contrapartida, as instituições, todas privadas, são beneficiadas por isenções fiscais.
No total, são 1.044 graduações com menções baixas ; 1 ou 2 no Conceito Preliminar do Curso (CPC) mais recente ; na lista do ProUni. Algumas chegam a oferecer mais de 100 vagas. O número de cursos nessa situação representa 8,5% do total ofertado na edição atual do programa (12.159). ;Se você olha proporcionalmente, pode não parecer muito. Mas estamos falando de quase metade dos cursos que foram reprovados pelo próprio MEC e, agora, estão sendo oferecidos no ProUni. É uma grande contradição;, afirma Wilson Mesquita de Almeida, doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de pesquisa sobre os resultados do programa de concessão de bolsas.
De acordo com Almeida, a parte mais frágil de todo o problema é o aluno beneficiado pelo ProUni. ;São pessoas de escola pública, de baixa renda, em desvantagem cultural, que vão cursar graduações ruins em instituições de baixa qualidade. O que vão conseguir com esse diploma?;, questiona. Atrás dessa resposta, o pesquisador estudou a trajetória de 50 bolsistas da cidade de São Paulo em seu trabalho de doutorado. Os resultados mostraram que o ProUni pode até ajudar na democratização do acesso ao ensino superior, mas nem de longe consegue provocar a ascensão social apregoada pela publicidade governamental.