Brasília ; A maior parte das pessoas empregadas no mercado formal brasileiro está no setor de serviços, especialmente nas áreas de vendas e atendimento ao consumidor, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado nesta segunda-feira (17/12). De acordo com o boletim Radar: Tecnologia, Produção e Comércio Exterior, outras ocupações em que há grande concentração de mão de obra no Brasil são as relacionadas à necessidade de força física, à assistência, à saúde, ao ensino, às ciências sociais, às telecomunicações e ao transporte.
O comércio, a administração pública, a construção civil e o ensino são responsáveis por cerca de metade dos empregos formais no país, segundo dados do Ipea, que são relativos a dezembro de 2010. Em contraponto, as ocupações em que há menor concentração de trabalhadores no país são as relacionados às ciências naturais, aos trabalhos rotineiros, ao monitoramento, à manutenção e às habilidades cognitivas e artísticas.
O uso da mão de obra no mercado brasileiro aponta as tendências mais estruturais da economia do país, delineia possíveis alterações no perfil da força de trabalho e influencia a implementação de políticas de capacitação e qualificação do trabalhador, com o objetivo de adequar medidas tomadas pelo Estado às características de cada mercado e das regiões geográficas específicas. Os dados são baseados em informações da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), entre 2003 e 2010.
De acordo com o Ipea, as atividades que requerem o maior uso de capacidades cognitivas, por exemplo, têm demanda em constante expansão. É o caso das áreas ligadas à intermediação financeira, à produção e à distribuição de petróleo e derivados, à educação e à informática. Geograficamente, segundo o estudo, a mão de obra dotada de uso mais intensivo das capacidades cognitivas está concentrada nas grandes regiões metropolitanas, segundo a denominação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
De acordo com textos do geógrafo brasileiro Milton Santos, já falecido, o fenômeno é denominado "desconcentração concentrada", o que quer dizer que, apesar da disseminação da industrialização e do desenvolvimento por todo o país, as grandes capitais detêm a maior parte da renda brasileira, pois continuam sendo os centros de tomada de decisão, onde há a concentração de atividades mais intensivas em tecnologia, com mais demanda intelectual e com produção de maior valor agregado.
No caso de trabalhadores cuja ocupação demanda atividades mais intensivas em uso de força física, em áreas de manutenção e transportes, por exemplo, há maior concentração em cidades menores (com menos de 250 mil habitantes). As cidades de médio porte, ou médio-alto (com mais de 250 mil habitantes) são mais intensivas em habilidades relacionadas a engenharia, design e ciências naturais, como São José dos Campos (SP).