A Comissão Nacional da Verdade (CNV) criou um grupo específico para investigar violações dos direitos de camponeses pelo Exército durante a Guerrilha do Araguaia, ocorrida no início da década de 1970. A Comissão dos Camponeses do Araguaia foi anunciada sábado (17) após audiência pública em Marabá (PA), onde acontece o encontro da CNV com indígenas e camponeses da região.
O grupo será formado por sete camponeses membros da Associação dos Torturados da Guerrilha do Araguaia, sediada em São Domingos do Araguaia. Segundo o presidente da associação, que assumirá também a presidência da comissão, Sezostrys Alves da Costa, esta é a primeira oportunidade de registrar as violências sofridas pelos camponeses. "Lutamos para que fosse reconhecida a perseguição aos camponeses, agora, vamos ouvir, sistematizar e produzir um relatório para contar o que aconteceu e contribuir com a Comissão da Verdade. Isso é muito importante para nós."
Durante a audiência de sábado, foram ouvidos três indígenas da etnia Suruí, que vivem na Terra Indígena Sororó, no sudeste do Pará, e seis camponeses. Entre os relatos mais marcantes, está o de uma indígena que conta ter perdido os gêmeos durante cerco feito por militares à aldeia em que vivia. Um camponês conta que, quando criança, perdeu o irmão em uma explosão de granada, encontrada enquanto brincavam.
Os relatos foram registrados, muitos pela primeira vez, para que façam parte da história da atuação da guerrilha e para facilitar as investigações de violência pela Comissão Nacional da Verdade. Hoje (18) devem ser entrevistados ex-soldados que atuaram na região.