Jornal Correio Braziliense

Brasil

Diplomata africana critica falta de negros em altos cargos do país

Rio de Janeiro ; A ausência de negros nos cargos mais altos da administração pública e de empresas brasileiras chamou a atenção de diplomatas africanos francófonos que, desde a semana passada, fazem um curso no Brasil. A observação foi feita nesta quinta-feira (4/10) pela diplomata do Senegal, Fatou Gaye Diagne, que participa do evento, do Ministério das Relações Exteriores.

Após apresentação das políticas do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), durante o curso, no Rio, a diplomata senegalesa, que está pela primeira vez no Brasil, externou sua percepção ao órgão. ;Não entendo que há anos da escravidão, tanto em instituições públicas quanto em privadas, não há sequer um brasileiro com origens africanas em altos cargos;, disse Fatou Gaye.

Desde a segunda-feira (24/10), Fatou está no Brasil. Ao lado de diplomatas de mais 12 países africanos falantes do francês, ela se encontrou com diretores e secretários de órgãos do governo federal como Ministério do Planejamento e das Relações Exteriores, esteve na Vale e na Petrobras, além de conhecer a sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

;O Brasil e a África têm muitas conexões. Posso entender as origens do problema [da falta de afrodescendentes], mas isso significa que, por décadas, o Brasil não tratou da questão;, disse a diplomata. Segundo ela, no Senegal, apesar da influência europeia no país, cuja maioria da população é negra, o quadro é o oposto ao brasileiro.

[SAIBAMAIS] Ao responder às observações da diplomata africana, a secretária nacional de Assistência Social do MDS, Denise Colin, reconheceu o problema, que atribuiu à escravidão e falou sobre as políticas de ações afirmativa nos últimos dez anos, inclusive para ingresso na carreira de diplomata e nas universidades, cujas diretrizes passam pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

;Eles perceberam a ausência de afrodescendentes na administração pública e nos espaços que visitaram;, disse Colin. ;Na verdade, eles viram os resultados de nossa histórica sociedade escravocrata e que ainda repercutem sobre o nosso sistema econômico e social;.

Para Fatou, ;as medidas de igualdade racial chegaram aqui muito tarde ;.

O curso oferecido aos diplomatas africanos termina amanhã (5). Na agenda, além de compromissos oficiais, consta uma programação turística, incluindo visita ao Maracanã. A expectativa dos organizadores é que a partir da troca de experiências, sejam construídas parcerias e acordos para promoção da justiça social e ambiental, conforme afirmou o embaixador brasileiro Maurício Cortes Costa.