São Paulo - A partir desta quarta-feira (14/8), usuários de planos de saúde que estiverem descontentes com o atendimento recebido terão à sua disposição um número de telefone para denunciar a má prestação de serviço. Lançado pela Associação Paulista de Medicina (APM) e a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (ProTeste), o SOS Paciente 0800 200 4200 atenderá reclamações de todo o Brasil e dará orientação para a garantia dos direitos dos usuários.
O projeto é lançado ao mesmo tempo em que a APM divulga uma pesquisa sobre o descontentamento do usuário com os planos de saúde. Segundo o levantamento, feita pelo Datafolha, que ouviu 804 pessoas, 77% disseram ter problemas com os planos de saúde. Para o presidente da APM, Florisval Meinão, esse dado é ;surpreendente e inaceitável;. Segundo ele, ;esse é um sistema em que a pessoa paga para ter o atendimento e tem esse alto índice de problemas;.
Os dados mostram que 96% utilizaram o plano nos últimos 24 meses e 64% tiveram algum problema. Entre os mais apontados estão demora na marcação de consultas (53%), médico descredenciado (30%), demora na autorização da consulta (25%), falta de médicos nas especialidades (20%). ;É preocupante porque é denunciado sistematicamente que os médicos encontram muitos problemas e muitas vezes decidem deixar os planos de saúde pelas baixas remunerações e pressões constantes;.
No caso dos exames, 84% precisaram utilizar e 40% tiveram problemas, como demora para marcação (24%), poucas opções de laboratório (24%), demora para autorização do exame (15%) e plano que não cobriu algum exame (9%). ;A demora atrasa muito a possibilidade de se firmar um diagnóstico e portanto dar andamento ao tratamento. Essa demora é inaceitável e uma queixa recorrente. Chama a atenção também a não cobertura, porque a Agência Nacional de Saúde (ANS) impõe um rol de exames a serem cobertos;.
O atendimento nos pronto-socorros foi acessado por 58% dos usuários, sendo que 72% tiveram algum obstáculo. Os mais apontados foram local de espera lotado (67%), demora para atendimento (51%), demora para realização de exames (12%), locais inadequados para medicação (12%) e negativa de atendimento (5%). ;Essa talvez seja a questão mais impactante de todas, pelo alto índice de problemas em um momento crítico, quando as pessoas estão correndo risco em situações de emergência;.
Outro alvo de reclamações, as internações hospitalares foram utilizadas por 20% dos entrevistados, dos quais 39% tiveram problemas, entre os quais poucas opções de hospitais (30%), demora para autorizar internação (16%), falta de vaga para internação (9%). Entre os que utilizaram cirurgias (18%), 15% tiveram problemas como a demora para a autorização do procedimento (11%), falta de cobertura do material utilizado e negativa de cobertura (ambas com 4%).
A pesquisa mostra ainda que 15% das pessoas que procuraram atendimento precisaram recorrer ao Sistema Único de Saúde (SUS) e 9% pagaram para ter atendimento.
A pesquisa foi entregue ao Ministério Público do Estado de São Paulo. De acordo com o promotor de Justiça, Carlos Cezar Barbosa, os dados foram recebidos com preocupação. ;Nós temos leis, o que falta é a atuação mais enérgica da Agência Nacional de Saúde. O MP pode contribuir à medida que receba demandas coletivas, mas a partir de um trabalho dessa grandeza poderá atuar para coibir a atuação desses planos e até mesmo fechá-los;.
De acordo com a coordenadora institucional da associação ProTeste, Maria Inês Dolci, o SOS Paciente mostrará os dados sobre as irregularidades e infrações aos direitos dos consumidores para apoiar os beneficiários na cobrança por qualidade de atendimento e rede adequada. ;As preocupações incluem não só a carência de hospitais, mas a sobreposição dessa rede e a verticalização dos planos. Não podemos pensar em aumentar o número de usuários sem aumentar a capacidade de atendimento;.