Jornal Correio Braziliense

Brasil

Ex-usuário de crack integra projeto que pretende acolher viciados no Brasil



Para os usuários que desejarem ir além do trabalho de higiene e alimentação diariamente na sede do Bairro Lagoinha, a igreja oferecerá a oportunidade de internação no centro terapêutico do grupo em Espera Feliz ou na unidade de Muriaé, ambas cidades da Zona da Mata. Cerca de 60 pessoas estão atualmente em tratamento, que varia de três a nove meses nesses locais. ;Lá, os dependentes tratam da abstinência e recebem apoio físico, emocional e espiritual;, disse. Também recebem nessa fase ajuda para resolver pendências jurídicas e judiciais, além de serem reaproximados da família, caso mantenham os laços afetivos. Segundo o pastor, a experiência de São Paulo mostra que cerca de 80% das pessoas se recuperam após o tratamento.

Três perguntas para...

Johnny Rodrigo dos Santos Alves
ex-usuário de crack e voluntário do projeto Cristolândia

1 - Como começou seu envolvimento com drogas?
Tinha 14 anos quando comecei a beber. Daí, conheci a maconha e a cocaína. Na época, não queria somente usar, queria ser o destaque, queria também vender a droga. Aos 17, fui autuado pela polícia em sala de aula por tráfico, mas isso não adiantou nada. Fiquei uns dois meses sem usar droga, mas não adiantou nada. Voltei e comecei a usar drogas ainda mais pesadas, como ácido e ecstasy. Depois veio o crack e aí foi um inferno na minha vida.

2 - O que mudou na sua vida depois do crack?
Fiquei prisioneiro da pedra. Comecei a vender minhas coisas para fumar. Passava quatro, cinco dias fora de casa dentro da favela, fumando. Fiquei malvisto pela minha família e sabia que estava fazendo tudo errado, mas não dava conta de mudar. Sabia que estava fazendo tudo errado, estava fazendo coisas absurdas para quem nasceu em um berço tão bom quanto o meu. Roubava pedestres, participava de saidinha de banco e de pequenos assaltos, mas estava completamente dependente do crack.

3 - Como foi a recuperação?
Minha mãe foi a única que acreditou em mim. Pedi para ela me internar e depois de três tentativas frustradas fui levado para um centro de recuperação que tinha parceria com a Igreja Batista. Lá tive realmente apoio e forças para me livrar do vício. Depois de nove meses estava liberado, mas ainda não sentia condições de ir para casa. Então decidi participar do programa Radicais e decidi ajudar, dentro do projeto Cristolândia, quem ainda é dependente da droga.