Ele gostava de passar o recreio conversando com as meninas e detestava jogar futebol. Os costumes e escolhas raramente associados ao sexo masculino logo renderam apelidos maldosos na escola. O principal deles, Ranibicha, era uma mistura do nome Ranielle, dado pela mãe, e do jeito considerado afeminado pelos colegas. ;Eu apanhava muito. Muito mesmo;, relata o menino sobre a época em que cursava o ensino fundamental na Escola Classe 36, em Ceilândia. A história de Ronie não é um caso isolado. Dados de 2011 da Unesco revelam que 40% dos homens gays sofreram bullying quando eram estudantes. Uma realidade que pode mudar caso prospere no Congresso a proposta aprovada na última sexta-feira (25/5) pela Comissão de Juristas que prepara o anteprojeto de reforma do Código Penal: a homofobia ser considerada crime.
Todo ano, o Ministério da Educação (MEC) registra, em média, 6 mil casos de homofobia na rede pública do país. Pesquisa de 2009 da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla) apontou que 44,4% dos alunos do Distrito Federal não gostariam de estudar com homossexuais. Aos 10 anos, Ronnie Araújo ; Ranielle mudou o nome na Justiça mais tarde ; foi vítima pela primeira vez de bullying homofóbico. Quando tinha 12, levou uma revista com fotos sensuais de homens para a escola e, ao ser descoberto pela diretora, ela exigiu sua transferência. ;Se fosse uma revista com mulheres, nada disso aconteceria;, disse a diretora.