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Manhã de SP teve congestionamento recorde e tumulto devido à greve do metrô

São Paulo ; A paralisação dos serviços de metrô e trem na capital, iniciada à 0h desta quarta-feira (23/5), com a greve dos trabalhadores do setor, provocou tumultos na zona leste e foi responsável pelo recorde de congestionamento na cidade. Às 9h55, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registrou 249 quilômetros (km) de congestionamento. A marca anterior havia sido atingida no dia 4 de novembro de 2004, quando a cidade registrou, às 9h30, 191 km de lentidão.

O metrô da capital transporta diariamente 4 milhões paulistanos. Já as duas linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) que pararam hoje são usadas, diariamente, por cerca de 850 mil pessoas.

A trabalhadora Lúcia da Silva, de 47 anos, saiu de casa às 5h30 e seguia para o serviço, em uma empresa de home care, no ônibus que foi bloqueado por centenas usuários inconformados com a suspensão das atividades do metrô, em frente à Estação Corinthians-Itaquera, da Linha 3-Vermelha. Os manifestantes bloquearam nos dois sentidos a Avenida Radial Leste. ;Entendo a revolta destas pessoas. Não acho que elas estão erradas. Mas a greve acaba prejudicando quem não tem nada a ver com isso, que são os trabalhadores;, disse.

A Radial Leste, que liga a região central ao extremo leste da capital, ficou interditada nos dois sentidos até as 8h, quando uma ação da Força Tática da Polícia Militar (PM), com bombas de efeito moral e balas de borracha, dispersou a multidão. Durante a ação, pelos menos duas pessoas foram detidas: uma mulher, por desacato à autoridade, e um homem que, segundo a PM, incitava outras pessoas a depredarem ônibus. Também houve tumulto na Estação Jabaquara, da Linha 1-Azul, na zona sul da cidade. Alguns usuários forçaram as portas e queimaram jornais na frente da estação.

Márcia do Carmo, diarista, de 36 anos, também estava na estação em Itaquera e diz ter sido surpreendida com a greve. ;Sabia que teria a greve, mas não sabia que era hoje;, declarou. Com a interdição das vias, ela desistiu de chegar ao trabalho. ;Nem de ônibus mais dá pra ir. Saí de casa às 4h30 pra pegar o ônibus e cheguei na estação às 6h15. Já são quase 8 horas e não consigo sair daqui;, relatou. Mesmo que o metrô estivesse funcionando, Márcia ainda teria que pegar mais duas conduções para chegar ao destino final, no bairro de Água Fria, na zona norte.

Além da Linha 3-Vermelha, que está funcionando apenas entre as estações Bresser-Mooca e Santa Cecília, mais duas linhas de metrô estão parcialmente paralisadas. A Linha 2-Verde, que liga Vila Madalena à Vila Prudente, funciona entre as estações Ana Rosa e Clínica, e a Linha 1-Azul (Tucuruvi à Jabaquara) opera entre as estações Ana Rosa e Luz.

Nos trens, a paralisação foi apenas nas linhas da zona leste, mas atinge os bairros mais populosos de São Paulo. As linhas 11-Coral (Luz-Estudantes) e 12-Safira (Brás/Calmon-Viana) transportam, diariamente, 850 mil pessoas, de acordo com a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

Quem conseguiu pegar ônibus teve que enfrentar as longas filas de congestionamento. Às 10h, São Paulo atingiu o recorde de 249 km de lentidão. A marca é a maior da série histórica, desde quando o monitoramento começou a ser feito em 1991. A suspensão do rodízio de carros e o tombamento de uma carreta na Marginal Pinheiros foram alguns dos motivos que fizeram aumentar as filas de veículos.

Mesmo com o Plano de Apoio entre Empresas de Transporte frente a Situações de Emergência (Paese), que coloca mais ônibus nas ruas para atender os trechos que deixaram de ser atendidos, muitos passageiros reclamaram da demora. ;O esquema aqui tá demorado. Tem uma hora que espero, mas o ônibus não passa;, queixou-se a auxiliar de limpeza Maristela Sabino, de 29 anos.

Os metroviários querem a reposição da inflação de 5,83%, calculada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico (Dieese), aumento real de 14,99% e reajuste de 23,44% para o vale-refeição. Os ferroviários, ligados ao Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Central do Brasil, pedem aumento real de 5% nos salários, além reposição da inflação.

Os metroviários vão decidir daqui a pouco, em assembleia, se aceitam proposta apresentada pelo Metrô de São Paulo em audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho (TRT).