Por unanimidade, a Comissão da Anistia aprovou nesta terça-feira (22/5) a condição de anistiado político de Anivaldo Pereira Padilha, de 71 anos, pai do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Ele receberá mensalmente R$ 2.484 (equivalente ao salário de redator, que ocupava à época do exílio) e pagamento retroativo de R$ 229,3 mil.
A Comissão da Anistia deve analisar, na sequência, ainda nesta tarde, o pedido de anistia do ex-marinheiro José Anselmo dos Santos, de 70 anos, conhecido como Cabo Anselmo. Dos 60 mil casos analisados, este é o primeiro que trata de um agente duplo, que atuou tanto como colaborador do regime militar quanto na resistência à ditadura.
Contando sua história na sessão pública, Anivaldo Padilha disse que não conseguiu dormir essa noite refletindo sobre o que passou. ;Cada voto dos conselheiros é um tijolo a mais que colocamos na direção da consolidação da democracia brasileira;, afirmou.
Estudante de ciências sociais da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Igreja Metodista de São Paulo, ele tinha 29 anos quando foi preso pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em 1970, denunciado por um tio, oficial do órgão de repressão infiltrado na congregação.
Em 1971, com o cerco do regime militar, teve que se exilar, morando em países como Uruguai, Suíça e Estados Unidos, sem poder se despedir da mulher.
;Tive que deixar o país sem falar com minha companheira, grávida de 3 ou 4 meses. Só pude ver meu filho em 1979. Tão doloroso quanto a ditadura, foi ter deixado de conviver com meu filho, Alexandre Padilha;, disse. ;Durante 6 anos tive pesadelos todas as noites, [pesadelo] de estar sendo preso, torturado;, afirmou.
De acordo com Anivaldo Padilha, a superação do trauma foi difícil. ;A única forma de vencer os torturadores, aqueles monstros, era por meio do perdão. A partir desse momento, os pesadelos pararam. Foi um processo terapêutico. Uma forma de mais uma vez me libertar da violência da ditadura;.
Durante sua fala, Anivaldo Padilha pediu para que a Comissão de Anistia encaminhasse o nome de seus perseguidores e torturadores à recém-criada Comissão da Verdade. ;Não é uma questão de punir pensando no passado, mas punir pensando no futuro, porque os torturadores continuam aí;, disse.
Ao final dos votos dos conselheiros, o presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, declarou Padilha anistiado e pediu desculpas formais, em nome do Estado Brasileiro, por todas as torturas, o exílio, perda do trabalho e distanciamento do filho, a quem conheceu apenas nove anos após o nascimento.