Cerca de 30 pesquisadores do Laboratório Misto Internacional Franco-Brasileiro Observatório das Mudanças Climáticas (LMI-OCE) vão participar do projeto Clim-Amazon para conhecer o regime de chuvas na Bacia do Rio Amazonas nos últimos 10 milhões de anos. O estudo, que vai durar quatro anos e é financiado exclusivamente pela União Europeia (; 2 milhões), vai observar os sedimentos encontrados no leito e no fundo de várias partes do Rio Amazonas, desde a nascente nos Andes até a foz no Oceano Atlântico.
Os sedimentos se deslocam, entre outras formas, pela força da chuva que alimenta o rio. Os dados coletados pela observação dos sedimentos poderão indicar se houve variação climática no período ;Será que o regime de chuva na Bacia Amazônica permaneceu constante nos últimos 10 milhões de anos ou será que houve mudanças?;, pergunta Roberto Ventura Santos, diretor de geologia e recursos minerais do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e professor do Laboratório de Geocronologia da Universidade de Brasília (UnB).
O pressuposto do trabalho é que a natureza não é constante e se desenvolve em ciclos. As características dos sedimentos (físicas, geoquímicas e isotópicas) revelam de onde eles vieram e quando. ;A hipótese é que ocorreram variações climáticas e essas variações modificaram não só a quantidade, mas também a localização de onde vieram os sedimentos;, explica Ventura Santos.
Essas informações podem ser relevantes em projeções sobre o comportamento futuro das chuvas na região. ;Para saber como as coisas vão funcionar no futuro, precisamos ver como se comportaram no passado. Entender como se deram no passado pode ser extremamente importante para saber como a Bacia Amazônica vai mudar no futuro;, avaliza Franck Poitrasson, pesquisador colaborador da UnB e coordenador do projeto pelo Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD).
A pesquisa vai utilizar material coletado em estudos anteriores (também em cooperação Brasil-França), novas coletas de água barrenta ou amarelada no Rio Amazonas (sedimento em suspensão) e material obtido em perfurações de 300 a 400 metros de profundidade (colhido nas prospecções por petróleo), além de material de satélite que pode, por exemplo, trazer imagens sobre as áreas com erosões.
A observação dos sedimentos pode inclusive verificar o impacto do desmatamento recente no Amazonas. As raízes das árvores mortas liberam terra do solo, que é levada ao rio.
Além de cientistas franceses e brasileiros (da UnB, da Universidade Federal do Amazonas e do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia), participam do Clim-Amazon pesquisadores alemães e holandeses. A expectativa de Ventura Santos é que em breve cientistas de outros países, inclusive da região amazônica, sejam envolvidos no projeto entre doutores, pós-doutores e pesquisadores visitantes.