Indígenas brasileiros e de outros países latino-americanos vão cobrar ações estratégicas dos governos para o movimento que representam durante a Conferência Rio%2b20, de 13 a 22 de junho no Rio de Janeiro. A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) espera reunir 1.200 indígenas latino-americanos, dos quais cerca de 800 brasileiros.
Caso a previsão se confirme, será o maior encontro indígena internacional de todos os tempos, segundo a entidade. Três temas terão destaque nas conversas, no período de 17 a 22 de junho, quando os grupos indígenas estarão reunidos no Rio. "Estamos nos articulando para que o mundo nos ouça, por meio de estratégias de comunicação e da internet. Não estaremos tanto na agenda oficial [da Conferência Rio%2b20], mas estaremos em salas, em palestras, divulgando a nossa causa", disse o coordenador-geral da Coiab, Marcos Apurinã.
Os temas propostas para discussão, segundo os líderes indígenas, são as estratégias para a demarcação de terras, formas de pressionar os governos nacionais a aplicar a Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que determina consulta aos indígenas quanto a obras ou políticas que possam afetá-los, e o modelo de desenvolvimento nos países da região, que inclui grandes obras.
Para abrigar todos os indígenas, será erguido no Aterro do Flamengo, na zona sul do Rio, um acampamento com 32 tendas, que terão estrutura para refeições, para a montagem de redes e banheiros. Haverá linhas de transporte gratuitas entre o acampamento e a conferência, na Barra da Tijuca (zona oeste da cidade).
Para Apurinã, o encontro servirá também para alinhar as posições dos indígenas diante das ameaças que enfrentam em quase todos os países latino-americanos. "Nossos problemas são praticamente idênticos aos dos indígenas de outros países. Mesmo nos lugares sem florestas, os índios enfrentam dificuldades para ter acesso à água e às terras", disse.
O reconhecimento de que os desafios enfrentados por índios latino-americanos ultrapassam as fronteiras nacionais tem feito com que, nos últimos anos, lideranças de movimentos indígenas venham intensificando as relações com seus pares de países vizinhos, com vistas a trocar experiências bem-sucedidas.
Esse processo tem sido liderado por organizações regionais, como a Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica), que estará na Rio%2b20. Baseada no Equador, a organização também contempla movimentos indígenas da Bolívia, do Brasil, da Colômbia, Guiana, Guiana Francesa, do Peru, Suriname e da Venezuela.
Com o objetivo de capacitar seus integrantes para negociações internacionais, a Coica promoveu na Colômbia, no ano passado, a primeira Oficina de Formação em Diplomacia Indígena. A Coica, que participou este ano do Fórum Social Temático, em Porto Alegre, e de encontro em 2011 em Manaus com lideranças indígenas da Bacia Amazônica, também tem buscado fortalecer sua posição em instituições multilaterais, como o Fórum Permanente das Nações Unidas para Assuntos Indígenas.
Ricardo Verdum, doutor em antropologia pela Universidade de Brasília (UnB), ressaltou que a articulação entre indígenas tem ganhado "contornos mais institucionais" nos últimos anos. "Na Eco-92 [Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente no Rio de Janeiro, em 1992], havia um processo de organização incipiente conduzido pelas lideranças (indígenas), mas não organizações com a estrutura atual. Hoje, eles estão bem mais atentos, buscando se organizar de forma politicamente autônoma."