O câncer é mesmo uma doença traiçoeira. Ele se manifesta de maneira diferente em pacientes distintos. Não há idade certa para dar sinais. Afeta quem está em plena juventude, gente que antes se considerava protegida do diagnóstico tão indesejado. Os medicamentos combatem o problema de uns, mas não contornam a progressão do tumor em outros. A instabilidade da doença exige pesquisas e conhecimentos cada vez mais aprofundados. Só assim é possível entender como a patologia progride em cada caso particular e determine-se uma terapia especifica para cada indivíduo.
Com esse desafio, o Hospital Sírio-Libanês de São Paulo apresentou nesta quinta-feira (12/4), na abertura para a imprensa do Simpósio Internacional de Câncer, o Intersections, o Centro de Oncologia Molecular, criado em parceria com o Ludwig Institute for Câncer Research, um dos maiores centros do mundo voltado para a pesquisa do câncer.
Com essa parceria, desde o início deste ano, um grupo de pesquisadores em biologia molecular e genômica do instituto internacional, coordenado pela brasileira Anamaria Camargo, tem atuado em um novo centro de pesquisa que funciona no Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa (IEP). Uma das metas da equipe é conseguir mapear o genoma dos tumores. Com essas informações em mãos, seria possível entender como a doença se manifesta em diferentes pacientes e quais seriam as terapias e medicamentos mais recomendados aos tratamentos.
Para fazer o mapeamento genético dos tumores, o hospital recebeu duas máquinas que cumprem essa importante tarefa em um dia e meio. Além disso, foi criado um Banco de Tumores, onde são armazenados o material retirado de pacientes que se enquadrem nos projetos de pesquisa que estão em andamento no Centro de Oncologia Molecular.
A pesquisadora Anamaria Camargo contabiliza cerca de 15 protocolos estudados atualmente. É mais de uma dezena de tipos de câncer sendo geneticamente desvendado para que, futuramente, possam ser combatidos com drogas mais específicas e eficientes. Os dados são analisados em um laboratório de biologia molecular, que exige profissionais gabaritados e especializados para decodificá-los. ;O genoma tumoral é muito complicado de ser analisado. Ele por si é um genoma alterado, quebrado, mutado;, explica a pesquisadora.
Os pacientes atendidos no Sírio-Libanês de Brasília, em breve, também poderão se voluntariar para participar desses protocolos de pesquisa, como avisa o diretor geral do Centro de Oncologia do HSL, Paulo Hoff. O desafio é desvendar cada vez mais as artimanhas das células cancerígenas. ;Podemos falar, em um futuro muito próximo, de uma medicina personalizada. A razão de ser de um hospital é melhorar a assistência ao paciente e tudo isso está ligado à pesquisa, a novas drogas e a tecnologias;, lista Luiz Fernando Reis, diretor científico do Sírio-Libanês. Justamente por isso, as parcerias e união de conhecimentos se tornam tão importantes.
No final de 2010, o Centro de Oncologia do hospital ainda criou projetos de cooperação mútua com o Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, um dos mais importantes centros de tratamento do câncer do mundo, que tem sede em Nova York. É mais uma arma no combate a tão temida doença.
A repórter viajou a convite do Hospital Sírio-Libanês.