Jornal Correio Braziliense

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Pai de vítima do estuprador diz que família está mais tranquila

Os parentes da jovem estão decepcionados com a polícia. Suspeito só foi preso 15 anos depois

Um dia depois da prisão do acusado de estuprar a filha de 26 anos, o pai da vítima que reconheceu Pedro Meyer Ferreira Guimarães diz que a família agora respira um pouco mais aliviada. A diminuição do sofrimento deve-se ao fechamento de um ciclo que durou 15 anos, tempo em que o acusado permaneceu livre. Ao mesmo tempo, denuncia falhas que ele considera graves e que atrapalham o trabalho de investigação da polícia em Minas. Segundo o pai da jovem, que não quis se identificar, a Polícia Civil padece da falta de equipamentos, veículos e até mesmo de agentes para atuar no trabalho investigativo.

Ele conversou nessa sexta-feira à tarde com o Estado de Minas, no salão de festas do prédio onde a família mora, em um bairro da Região Centro-Sul da capital. Começou lembrando a atuação dele, da filha e de um parente na prisão de Pedro. A jovem ligou para a família tão logo identificou o acusado e foi ele quem chamou a PM, também se dirigindo para a porta do prédio onde o suspeito havia entrado.

Sobre o futuro da jovem, disse que a família está zelando para que ela seja preservada e afirmou que está pronta a colaborar com as investigações policiais para que os outros casos denunciados nessa sexta-feira à Delegacia de Mulheres sejam esclarecidos.

Apesar de dizer que o desejo da família é que a história seja apagada e que a vida siga em frente, guarda lembranças ruinsdo período investigativo. Em muitas das frases ditas à reportagem, critica o quadro reduzido da Polícia Civil e a falta de empenho no processo de elucidação do caso. ;Na época, ficamos sabendo de 10 casos. Foram cinco no Cidade Nova, dois no Bairro União, dois no Sagrada Família e um no Caiçara. Mesmo assim, não conseguiram prender ninguém. Faltavam carros, policiais. Acompanhei tudo de perto. Às vezes tinha que pôr gasolina nos carros da polícia para eles irem a campo. As investigações não deram em nada;, relembra.

Sobre o momento da prisão de Pedro, contou que teve medo de cometer mais uma injustiça com quem não tinha nada a ver com o caso. ;Ficamos dois anos por conta do trabalho investigativo. Pedi para tirar homens da prisão para que passassem pelo processo de reconhecimento da minha filha. E não eram essas pessoas. Mas neste caso, quando minha filha o viu, não teve dúvidas. Logo ele confessou;, desabafou

Vida normal

Na casa da família, a vida começou a voltar ao normal nessa sexta-feira. Na quarta-feira, o acompanhamento da prisão do acusado durou 12 horas, intercaladas com idas e vindas à Delegacia de Mulheres. ;Ontem minha filha ainda estava muito nervosa, chorou muito. Sugeri que fossemos para minha cidade natal, mas ela não quis. Disse que iria trabalhar. É a vida que segue;. Sobre a filha, disse emocionado: ;Minha filha é uma guerreira. Menina boa, que estudou, se formou e não deixou que isso atrapalhasse sua vida, suas relações. Mas sempre disse que se visse esse homem de novo o reconheceria. Foi muito corajosa durante todo esse tempo;. O pai fala ainda que desde o dia em que a vítima foi abusada passou a ter acompanhamento psicológico.

A falta de infraestrutura na Polícia Civil é reconhecida pelo delegado Márcio Lobato, da Superintendência de Investigações e Polícia Judiciária. ;Passamos por um quadro de relativa dificuldade no que se refere ao efetivo. Hoje são aproximadamente 9,6 mil homens, enquanto estudos apontam para a necessidade de 17 mil. Trabalhamos com o efetivo do ínicio dos anos 1980, quando houve aumento do quadro de pessoal. De lá para cá, os crimes aumentaram e a população também;, afirmou. O delegado explica que a atual situação deve-se a diversos fatores e cita a falta de concursos públicos, além da aposentaria de muitos policiais.