Além de integrantes do movimento em cinco estados e no Distrito Federal (DF), participaram da reunião nesta quinta-feira (15), em Brasília, a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, e representantes de vários ministérios. Inicialmente, o encontro estava marcado para o fim do mês, mas foi antecipada após um comerciante ter contratado um grupo de jovens para matar dois moradores de rua na cidade de Santa Maria (DF).
Visivelmente emocionados, os integrantes do movimento nacional cobraram maior atenção do Estado para conter a violência contra os moradores de rua. Segundo o Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores [CNDH], criado no ano passado, pelo menos 165 moradores de rua foram assassinados no Brasil entre abril de 2011 e a semana passada.
;Chegamos ao ponto de um safado pagar R$ 100 para atear fogo a uma pessoa viva, um morador de rua que estava dormindo;, disse Maria Lúcia, ao falar do recente caso de violência no Distrito Federal. ;Há dois anos estamos chamando a atenção para tudo o que vem acontecendo e para os efeitos não só da falta de políticas públicas destinadas à população de rua, mas também para os que a Copa do Mundo e todas as ações de higienização trariam à população de rua;, completou.
Ela também criticou as operações como a ocorrida na cidade de São Paulo para coibir o uso do crack na região conhecida como ;cracolândia;. ;Jogaram os lobos e os chacais contra nós, associando a população em situação de rua ao combate ao crack e dizendo que nosso caso é de polícia;.
Para o representante paulista do Movimento Nacional de População de Rua, Anderson Lopes, o atual momento é muito triste. ;Não quero mais abrir meus e-mails, pois todo dia eu recebo notícias de mortes [violentas] de moradores de rua. No Distrito Federal isso chegou ao conhecimento da imprensa porque os dois companheiros queimados têm famílias que denunciaram o caso à imprensa. Senão, seria mais um corpo recolhido e enterrado como indigente. É triste. É lamentável. Queremos uma ação enérgica do governo federal e o fortalecimento do CNDH;.
Ao ouvirem da ministra Maria do Rosário que o governo brasileiro tem ;orçamento e condições, mas precisa da ajuda de estados e municípios;, Maria Lúcia e Lopes criticaram às prefeituras. ;Se não chamar os prefeitos para que eles assinem um termo de compromisso pela vida da população em situação de rua, vamos estar dando murro em ponto de faca. Os prefeitos não estão nem aí para a população em situação de rua. Colocam um grupo em um ônibus e mandam para outra cidade;, disse Maria Lúcia, criticando leis municipais que punem moradores de rua por vadiagem.
Outro representante do movimento nacional, do Espírito Santo, Samuel Rodrigues, reivindicou mais recursos para equipamentos públicos de atendimento aos moradores de rua. ;Tivemos alguns avanços, mas, infelizmente, estamos precisando interromper a discussão sobre como oferecer saúde, habitação e recensear a população de rua, para focar na luta pela vida. Estamos, neste momento, brigando para nos manter vivos. Esta é a dura realidade com que estamos vivendo. Talvez já tivéssemos tido uma resposta se tivéssemos tacado fogo numa delegacia. Queremos saber o que vai ser feito, senão vamos denunciar esta situação a uma corte internacional, pois o que está ocorrendo é um extermínio;, disse.